Esperança!

É uma crença emocional, com uma certa dose de perseverança, que nos faz acreditar que algo de bom virá mesmo quando há indicações do contrário. O sentido de crença deste sentimento aproxima-nos muito do significado atribuído à fé, que nos induz à vontade de confiar na bondade.

O ano de 2020 foi um ano atípico, cheio de desafios, que nos obrigou a reinventar a nossa forma de responder às necessidades emergentes, mas também de procurar manter a possível proximidade e alento às pessoas com as quais intervimos. Os projetos e atividades não abrandaram, pelo contrário, continuámos mais presentes nas comunidades, sem nunca perder o humanismo, a sensibilidade e a proatividade que caracterizam o nosso trabalho. Mantivemo-nos cientes da nossa esperança em corrigir algumas injustiças mais profundas da nossa sociedade, repondo os direitos que consideramos prementes para que cada criança, jovem e família caminhassem com dignidade. Com avanços e recuos, motivados pela incerteza a que todos estávamos remetidos, o nosso sentir foi sempre de movimento e não de espera.

Caminhámos animados pela força da bondade de todos os amigos e parceiros que nos chegaram com um simples: Estamos Aqui! Estamos presentes! Do que precisam? Juntos encontrámos soluções para os desafios que emergiam diariamente e estivemos juntos neste crescer partilhado e na preparação de um novo futuro, sorrindo juntos nas conquistas. Mas a verdade e que os nossos amigos e parceiros também foram a nossa âncora nos momentos de tristeza e de maior angústia, quando se agravaram as dificuldades, ou se evidenciaram outras fragilidades, e o nosso vínculo afetivo saiu fortalecido, reconhecendo em cada um dos nossos amigos e parceiros o exemplo da solidariedade e da fraternidade. Entre passos concretos evidenciou-se um propósito consciente que todos podemos tomar como certo: se caminharmos juntos é tudo tão mais fácil.

Por tudo isto, queremos iniciar o ano com um olhar para trás, para os últimos meses, com gratidão, e refletir sobre tudo o que tem sido este ano e olhar para a frente, com um coração aberto e feliz, considerando tudo o que será! Esperança!

Consignação do IRS Tempos de União, Esperança e Generosidade!

Nestes tempos difíceis e de grande incerteza lembrem-se de nós e do trabalho que fazemos, diariamente, rumo a um futuro mais feliz e risonho para todas as crianças que vivem na Casa da Criança de Tires.

Assim, fazemos um apelo: Queremos continuar a contar consigo na Consignação de 0,5% do seu IRS, que não tem custos para si (nem sequer interfere com o reembolso), demora apenas 15 segundos e permite-nos continuar a proteger e a promover os direitos de crianças filhas de reclusas e crianças em perigo.

Acreditamos que juntos conseguimos fazer mais e melhor!

Contamos consigo!

Ser Marista Hoje!

Esta pandemia fez-nos parar e repensar a nossa prática, refletir e ponderar se estamos a ir juntos nesta nossa missão social junto das pessoas que são os Montagne de hoje! Como estamos a ouvir as suas inquietações, quais são as suas esperanças, como e se estamos efetivamente ao serviço do outro, como vivemos o espírito de família, ou mesmo como partilhamos os valores MARISTAS?

Nem todos temos a sorte de ter pais presentes, dinâmicas familiares harmoniosas, aquele professor que nos cativa e orienta. Nem todos temos a sorte de sermos acolhidos, sermos ouvidos, nem que nos olhem nos olhos com o respeito que merecemos…. As fragilidades da sociedade e a reposição de direitos impõe que existam entidades que reponham a justiça e as falhas do destino.

Desde 1995, a Fundação Champagnat têm vindo a assumir o seu compromisso junto das crianças, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade social assumindo-se como o apaziguador das inquietações das pessoas e das comunidades mas também sendo o porta voz das suas esperanças, rumo a uma sociedade mais humana e fraterna.

Neste sentido tem dinamizado projetos nas áreas de promoção e proteção dos direitos das crianças e jovens, animação territorial e intervenção comunicação, intervenção familiar e parentalidade consciente, cidadania e direitos humanos capacitando pessoas e comunidades de uma forma compartilhada.

Sabemos que é na relação com o outro que as crianças, jovens e famílias que conseguimos transmitir que é possível dar e receber, com equilíbrio, de modo a que restaurem a confiança na sociedade e a assumam como a sua rede de suporte informal. Assim, ninguém precisará de se sentir ou ficar vulnerável.

A verdade é que precisamos do outro para ser e é essa multiplicidade que nos enriquece, é o caminhar junto que define o nosso progresso enquanto sociedade. E assim nos situamos, neste repensar constante do nosso papel neste mundo, em constante mudança, no qual a responsabilidade de construir e futuro melhor, mais humano, tolerante e empático é responsabilidade de todos.

Obrigada!

Queremos dizer OBRIGADA! Porque esta é a única forma que temos de retribuir todos os gestos de bondade que nos chegaram este ano!

Porque a solidariedade, a fraternidade e a responsabilidade social se materializam em gestos, sorrisos, cuidado, atenção, generosidade, disponibilidade, presença, rostos, olhares que se cruzam, emoções que se partilham, memórias que ficaram em nós e esperamos que em cada um de vós também.

ACL Serviços de Informática|APM – Associação de Pais Maristas – Lisboa|Associação PEEAB Estoril|Astellas Farma|Banco Alimentar|Banco BPI SA|Banco de Bens Doados|Banco Farmacêutico de Portuga|Banda Alegre|Brasa da Bela Vista Rebelva|Café Central|Câmara Municipal de Cascais|CAPITI|Centro Ambiental da Pedra do Sal|Centro Clínico de São Lucas|Centro Paroquial de Cascais|Cervejaria Eduardo Lda|Clínica do Piolho|Cleverti Tecnologias e Inovação Lda|Clube Brisa|Clube Millennium BCP|Colaboradores Oneycares|Colégio Marista de Carcavelos|Colt Technology|Comatec|Compasso|Congregação dos Irmãos Maristas de Portugal|Contisystems|Convatec|CTT – Pai Natal Solidário|CVT Business Services|Daymon|Delarobia|Desportivo de Monte Real|Dia Portugal|Direção Geral de Reinserção Social e dos Serviços Prisionais|Doutor Finanças|Ellegantia|Emoções ao Quadrado, Lda|Entrajuda|Estabelecimento Prisional de Tires|Etapa Permanente, Lda|Euro2|Externato Marista de Lisboa|Indra|Farmácia Silveira|Findus|Fundação Inatel|Fragmentos Arquitectura|Fujitsu Technology Studios|Fundação Ageas|Gabinete Jurídico e Notariado Cláudia Paiva|Galp Energia|Ginediagnóstico Lda||Grafisol|Grupo Azevedo Farmacêutica|Grupo RHmais|Grupo Sportivo 1º de Maio|Husqvarna Portugal SA|Hydro|Imaginação Fértil|Inner Wheel Clube de Cascais|Instituto Missionário Marista de Vouzela|Instituto de Solidariedade e da Segurança Social|InterPartner Assistance Portugal|JPMaeng UNIP. Lda|Jumbo Cascais|Junta de Freguesia de Carcavelos-Parede|Junta de Freguesia S. Domingos de Rana|Ko Team|Leaseplan|Legal Minds|Logos Comunhão Cristã |Magical Garden|Marcha Vouzela|Mdriving Race Academy|Mind Software e Multimédia e Industrial AS|Motards do Ocidente Moto Clube|Mula Rugs|Nokia|Novelo Solidário|Nucase|Olho Nú, Lda|Os Pequenos Marqueses|Paes de Almeida & Associados, Sociedade de Advogados, R.L.|PIN|Pingo Doce|PROCME|Progelcone Comércio e Indústria SA|Promanec|Reckitt Benckiser Portugal SA|Remax Horizonte|Restaurante O Pescador|SIC Esperança – Associação de Solidariedade|Smartly Fun|Sumol&Compal|Status 2000 Lda|TCPI|Teatro Politeama|Vilan Monroy|US – Consultoria de Gestão Lda|Vizinhos à Janela|Viva la Vida – Feel The Life Consulting Lda|Vertente Vitoriosa|Vortal|Whitestar|Zippy SA|Zurich

E assim é! O Amor salva-nos!

Há conversas que nos elevam a alma e nos fazem acreditar que é possível um futuro mais fraterno.

“-Olá Carla, podemos falar contigo um poquinho?

– Não vão comer mais chocolates hoje, já chega! – Foi a minha resposta imediata! (Dado os 10 pedidos anteriores)…

– Nós queríamos que ouvisses uma música…

– Sério? É sobre quê?

– Eu acho que é sobre racismo, diz a Bruna!

– Eu acho que é sobre amor, diz o Bruno!(A música retrata uma história de amor entre duas pessoas de etnias diferentes)…

– Sabes que quando entrámos aqui na Casa nós tínhamos medo de pessoas como vocês?

– Como quem, perguntei?

– Pessoas da vossa cor… (e baixam os olhos os dois irmãos)!

– É que vocês eram muitos… nessa noite chorei muito, disse a Bruna!

– Eu não quero que tenham medo aqui na Casa! E agora como se sentem?

– Era por isso que queríamos falar contigo era para te dizer que gostamos muito do Ema, dizer que o Paulo falou muito connosco… Nós também pensávamos que não iam gostar de nós por sermos ciganos mas o Alex (8 anos) disse-me olá e foi andar comigo de bicicleta. E eu fiquei muito feliz!

– Queremos dizer que já não pensamos essas coisas más e que gostamos muito de todos e de ti também!”

E assim é! O amor salva-nos! ❤️❤️❤️ #casadeacolhimento #casadacriançadetires #fundaçãochampagnat #acolhimentocomintencionalidadeterapêutica #promoçãoeproteçãodascrianças #somosmaristas 💚💫

Uns a cuidar de outros!

“Na DIA Portugal estamos a demonstrar, uma vez mais, o nosso compromisso com o desenvolvimento e bem-estar de Portugal e da sua população, um compromisso que reafirmamos nesta situação de crise como a que se está a passar em todo o mundo e, em particular, na Europa. Nesse sentido, queremos ser parte da solução que ajude a mitigar os efeitos adversos que a Pandemia de Covid-19 trouxe à população portuguesa em todo o território nacional.

A DIA conta com um universo de cerca de 3.500 colaboradores em Portugal, 237 franqueados e lançámos um desafio interno para que nos ajudassem a identificar as instituições que poderíamos ajudar nesta fase e, no distrito em causa, a vossa instituição foi a que recolheu mais votos.

Nesse sentido, gostaríamos de reforçar a nossa disponibilidade em contribuir para que continuem a prestar o valioso auxílio que dão à população que servem pelo que, vimos por este meio, pedir que nos identifiquem as necessidades imediatas para que possamos fazer uma avaliação e agir em conformidade. Iremos empregar todos os esforços para possibilitar uma resposta atempada e que contribua para mitigar os problemas que nos identificarem.

Apesar da excecionalidade desta situação e da complexidade logística e operacional que enfrentamos, na DIA estamos a trabalhar afincadamente para assegurar o abastecimento de alimentos à população, um trabalho que continuaremos a fazer. Queremos apoiar o país e ser um dos instrumentos de ajuda para contribuir a ultrapassar esta situação tão dura para todos.”

E assim caminhamos sabendo que podemos contar com a nossa comunidade! 💚💫

 

A sorrir é tudo mais fácil!

“Olá amiguinhos!


A convite da Fundação Champagnat, e da Casa da Criança de Tires, deixamos convosco a nossa partilha, sobre como estamos a viver, e como nos estamos a sentir nestes momentos!

52 Dias de isolamento! No dia 9 de Março, na Equipa Gema, falámos uns com os outros!! Os nossos super heróis, princesas, piratas, palhacinhos, bonecas, unicórnios e outros personagens mágicos que habitam o nosso mundo de imaginação, tiveram uma grande conversa, partilharam os seus receios e preocupações, e juntos decidiram que tinha chegado o momento de cada um se recolher nas suas casas, palácios, e ninhos, para nos protegermos uns aos outros e mais importante que tudo, proteger todas as crianças, famílias e instituições com que trabalhamos!


Assim, começámos a ligar a todos os nossos amiguinhos, para planearmos como poderíamos celebrar as suas festas e dias especiais… No início foi muito difícil, partilhamos lágrimas e ficámos tristes… Mas como por aqui, na Equipa Gema, não sabemos ficar sem sorrir durante muito tempo, rapidamente começámos a procurar soluções para espalhar sorrisos por todos os meninos e meninas, crescidos e crescidas que nos acompanham!
E foi assim que começámos a tornar reais alguns sonhos.. sonhos sobre como espalhar sorrisos, neste momento em que este bicharoco mau anda lá fora na rua, e temos de ficar nas nossas casinhas para nos protegermos dele!
Começámos a partilhar diversas atividades, criámos o hábito de ligar às nossas famílias e instituições, lançámos a nossa hora do conto online, onde todos os dias úteis contamos histórias lindas e muito divertidas!
E ainda inventámos um nosso modelo de Animação Infantil Online, super interativa e muito divertida!! Que tem feito as delícias de miúdos e graúdos!! E que nos tem permitido continuar a espalhar sorrisos, mesmo a partir da segurança das nossas casas 😀
Não é fantástico?!


Mas e se pudéssemos fazer chegar estes sorrisos a mais crianças? A mais carinhas? E se pudéssemos partilhar estes sorrisos, com as crianças e famílias que neste mais momento mais precisam de sorrir!
😀 Ahhh pois é!!! Que maravilha! Que coisa tão boa! E foi assim que, uma vez por semana, a Equipa Gema começou a oferecer uma animação infantil online a uma instituição sem fins lucrativos, de apoio à infância!!
E claro, foi de braços abertos que fomos recebidos pelos simpáticos amigos da Casa da Criança de Tires, para duas manhãs cheias de alegria e muita animação!! Que encheram o nossos coração de alegria, e as suas carinhas de sorrisos e gargalhadas!!!

Obrigada amigos por esta oportunidade de fazermos o que mais amamos, e de partilharmos convosco estas manhãs tão divertidas e cheias de animação!!!

Assim, se tu conheces alguém que neste momento mais difícil está mesmo a precisar de um sorriso, conta-nos! 😊 E nós trataremos de o fazer lá chegar 😀
Vamos todos manter os nossos corações juntos e felizes, e ajudar a escrever um final feliz para esta aventura que estamos a viver!!
Sorrisos felizes e até já 😉”

Agora na Casa da Criança de Tires

É em fases como a que estamos a viver que esta frase assume a sua maior expressão. E as crianças relembram-nos isso todos os dias! Quando são acolhidas na Casa da Criança deixam de pertencer e ser o que conheciam como real até então, deixam a escola, os amigos, as suas coisas, a sua família… E elevam o conceito de desapego! Aceitam e começam de novo!

Agora, face a esta pandemia, é-lhes pedido que deixem a escola, os amigos, a família e vivam em isolamento social, por um tempo indeterminado… É-lhes pedido que sejam pacientes e façam uma boa gestão emocional de toda esta situação! E eles aceitam e começam de novo! A forma como estas crianças viveram esta notícia elevou a nossa responsabilidade e compromisso, ressaltando o nosso espírito de família e o sentido de presença junto daqueles que são, mais que o nosso trabalho, o nosso propósito de vida. Contamos com uma equipa de colaboradores fantástica que rapidamente se mobilizou no sentido de garantir que passagem por esta nova realidade fosse serena e segura e que a memória deste período da sua vida fosse a melhor possível, em detrimento da sua vida pessoal. É assim que vivemos todos os dias nesta Casa feita do amor que caracteriza uma FAMÍLIA.

Desde o dia 16 de março que estamos fechados em casa. As nossas rotinas foram reorganizadas atendendo à necessidade de mantermos o cumprimento das tarefas escolares, a prática de atividade física, as brincadeiras e o laço afetivo com a nossa família, garantindo a maior normalidade possível e salvaguardando a estabilidade emocional de todos, crianças e adultos que delas cuidam. Estamos isolados do mundo mas não daquilo que nos caracteriza. Continuamos a brincar, a jogar, a partilhar sorrisos e gargalhadas, a fazer birras e a rebolar na relva, a ver a forma das nuvens e terminamos o nosso dia a ver o melhor pôr do sol do mundo. E todos os dias começamos de novo!

A maior dificuldade para os meninos, nesta fase, é não estar com a sua família mas conseguimos garantir que todas as famílias tivessem a possibilidade de falar com os filhos, por vídeo chamada, disponibilizando os recursos necessários. Hoje e sempre, as crianças acolhidas na Casa da Criança de Tires podem contar com esta família de “faz-de-conta” que, tal como nos contos, irá fazer com que o final desta história seja o tradicional e “viveram felizes para sempre”. Estamos sempre com um sorriso nos lábios, com um olhar presente, com um abraço apertado, um obrigada e um “eu gosto muito de ti”! A verdade é uma: o que permanece todos os dias é o amor que temos uns pelos outros! É termos um porto de abrigo onde podemos descansar a alma enquanto esperamos que o “corona saia”, dizem eles!

Quando nos pedem isolamento social estamos mais juntos do que nunca! E isso é um dos paradoxos mais felizes de todos os tempos! E isso é tão essencial e pode ser tão visível!

Programa “Máscaras Acessíveis”

O Programa “Máscaras Acessíveis” é uma iniciativa da Câmara Municipal de Cascais em parcerias com o setor social. Ao abrigo deste programa, a Câmara Municipal de Cascais cederá 850 mil máscaras de proteção individual a Instituições de Solidariedade Social des reconhecimento mérito no concelho, que as disponibilização aos cidadãos a valores muito inferiores aos que são atualmente praticados no mercado.

A promessa deste programa é garantir que cada cidadão de Cascais pode adquirir até três (3) máscaras de proteção individual por semana para enfrentar a pandemia, sendo que o valor de aquisição é de €0.70 (cêntimos) por unidade.

Objetivos:

– Quebrar os movimentos especulativos no mercado, em que as máscaras estão a ser transacionadas a 2€ a unidade;

– Aproximar os cidadãos das IPSS, contribuindo para o trabalho que estas fazem na primeira linha do combate à COVID-19, assegurando a dignidade na dificuldade aos nossos concidadãos;

– Garantir que todos os cidadãos têm máscaras para o período de reabertura social e reposição da normalidade nas nossas comunidades.

Contamos consigo para permanecermos todos em segurança! Juntos fazemos mais e melhor!

Horário: Segunda a Sexta-feira | 09h00 às 17h00. Local: Fundação Champagnat – Casa da Criança de Tires | Av. Amália Rodrigues nº 23 2785-636 S. Domingos de Rana

“O essencial é invisível aos olhos”

O essencial é invisível aos olhos. É em fases como a que estamos a viver que esta frase assume a sua maior expressão. E as crianças relembram-nos isso todos os dias! Quando são acolhidas deixam de pertencer e ser o que conheciam como real até então, deixam a escola, os amigos, as suas coisas, a sua família… E elevam o conceito de desapego! Aceitam e começam de novo! Agora, face a esta pandemia, é-lhes pedido que deixem a escola, os amigos, a família por um tempo indeterminado… É-lhes pedido que sejam pacientes e façam uma boa gestão emocional de toda esta situação! E eles aceitam e começam de novo! Sempre com um sorriso nos lábios, sempre com um olhar presente, sempre com um abraço, um obrigada e um “eu gosto muito de ti”! A verdade é uma: o que permanece é o amor que temos ou deveríamos ter uns pelos outros! É termos um porto de abrigo onde podemos descansar a alma enquanto esperamos que o “corona saia”, dizem eles! E isso é tão essencial e é ou pode ser tão visível! 💫💚

Uma Santa e Feliz Páscoa

Feliz Páscoa

E de repente temos tempo! De um dia para o outro fomos obrigados a ter tempo! Nesta Quaresma prolongada temos a oportunidade de usar este tempo para crescer emocionalmente! Cresçamos, Mudemos, Transformemos, Renovamos, Amemos… Enquanto esperamos que a nossa Páscoa chegue! Renasçamos! 💫💚

Sem qualquer custo para si, com muito valor para nós!

Cada criança é uma história por contar e, nessa história, todos temos um papel: ajudar a crescer, sarar feridas, preparar para o futuro, sorrir nas conquistas e ser âncora nas tristezas. Temos contado consigo ao longo destes anos e queremos continuar a contar.

Com a consignação de 0,5% do seu IRS protegemos e promovemos os direitos das crianças acolhidas na Fundação Champagnat – Casa da Criança de Tires.

Se o preenchimento do seu IRS é automático, a consignação efetua-se na área “Pré Liquidação” e basta assinalar com uma x (cruz) no campo 11 e colocar o NIF 503743712.

Na declaração de rendimentos tradicional (Modelo 3), a consignação faz-se no Quadro 11 do anexo “Rosto”.

Contamos consigo! É tão fácil fazer a sua parte!

Comunicado para amigos e parceiros

Estamos a olhar para esta pandemia com um olhar rigoroso e com a serenidade que nos permite ponderar aquilo que consideramos ser melhor para as criança que nos são confiadas e famílias com as quais intervimos.

Em função da evolução da situação relacionada com o COVID-19 e em face da crescente preocupação social e repercussões que esta situação representa para a saúde pública, a Fundação Champagnat decidiu adotar várias medidas, com o objetivo de tentar conter a propagação do Coronavírus, procurando proteger os beneficiários e colaboradores da Instituição, que têm na Fundação Champagnat a sua “Casa” e a resposta para a sua vulnerabilidade social.

Com efeito, e na sequência dos últimos acontecimentos, a Fundação Champagnat em conformidade com as recomendações da Direção Geral de Saúde, decidiu reduzir os seus serviços ao mínimo, durante as próximas duas semanas, sendo reavaliado em função da evolução epidemiológica.

Neste sentido, o Conselho de Administração da Fundação Champagnat decidiu encerrar, de forma temporária, a Ludoteca da Adroana, O Centro de Apoio à Família, adiar a abertura da EcoLudoteca e manter a Casa de Acolhimento em funcionamento, contudo limitando os contactos sociais das crianças que aqui habitam.

Esclarecemos que até ao momento, a Fundação não tem conhecimento de nenhum caso de COVID-19, nem de casos suspeitos a que obriguem a quarentena., decorrendo a nossa decisão do propósito de salvaguardar o bem-estar e a saúde da comunidade, em particular de todas as pessoas em situação de vulnerabilidade social.

A atualização destas informações será feita através do site oficial da Fundação Champagnat em http://www.fundacaochampagnat.org e nas redes sociais (páginas de Facebook e Instagram) das Respostas Sociais da Instituição. 

Ensaio Solidário a favor da Casa da Criança de Tires

Boas surpresas que nos chegam! O Ensaio Solidário de RICARDO III de William Shakespeare, a ter lugar no dia 14 de abril, às 21h, no Teatro da Trindade INATEL e a totalidade da receita reverterá a favor da Fundação Champagnat – Casa da Criança de Tires. O bilhete terá um valor único de 10 euros e poderá ser adquirido na Bilheteira Online: bit.ly/TeatroTrindade_EnsaioSolidario_RicardoIII

O espetáculo conta-nos a maquiavélica ascensão ao poder, repleta de mentiras, manipulação e violência, daquele que é considerado o mais sangrento e terrível dos vilões.

No elenco conta com Diogo Infante (Ricardo III), Alexandra Lencastre, Carolina Amaral, Diogo Martins, Guilherme Filipe, João Jesus, João Vicente, Lia Gama, Romeu Vala, Virgílio Castelo e Brandão de Mello, Constança Neto, Inês Loureiro e Joana Antunes (alunos ESTC). A encenação é de Marco Medeiros.

Podemos contar contigo? 💙

“Sinto-me tentado a fazer as coisas certas pelas razões erradas!”

A Quaresma oferece-nos um tempo para parar e refletir…

“Agora, temos 40 dias para nos prepararmos, para rever as nossas rotinas, para vermos como estamos. 

Temos 40 dias para aprofundar a nossa vida, para analisar sed as nossas atitudes e comportamentos, estão de acordo com o que vamos celebrar.

Temos 40 dias diante de nós, para chegarmos preparados a esta grande festa que dá sentido ao resto do ano.

A Quaresma oferece-nos um tempo para parar e refletir, no meio da agitação constante e mais ou menos consciente do dia a dia. É um tempo mais de perguntas do que de respostas. Para onde vou e para quê? Qual é o sentido do que vivo? Quais são as minhas esperanças? Quais são as minhas tentações e desafios?

Este é o convite que fazemos neste tempo de Quaresma: entrar no nosso deserto e deixar-nos acompanhar pelo Senhor, que ao longo da nossa vida, nos interroga e nos força a dar resposta às nossas questões e inquietações profundas.

Que as cinzas de hoje nos façam recordar a nossa fragilidade e pequenez, a pertinência e a conversão que precisamos de realizar.

Recebemos estas cinzas na cabeça com humildade. Servem para nos lembrar que muito do que cultivamos é transitório e que temos de alimentar o fogo que existe em nós.

Neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir ao deserto.”

in Proposta de Reflexão para a Quaresma pela Pastoral do EML 

É Amor o que vivemos na Casa da Criança de Tires!

Amor nas suas mais variadas expressões! No cuidar diário, nos olhares que se cruzam, nas histórias que se contam, no tempo que se doa, no querer estar presente… Ontem foi dia de retribuir o Amor que recebemos e quisemos ser nós a mimar quem teve a sensibilidade e generosidade de estar presente nas nossas vidas, de se o AGORA na nossa infância! E este AGORA traduz-se na simplicidade, humildade e modéstia com que chegam até nós, multiplicando os valores Maristas que vivem em nós! Trouxeram mais que presentes, roupas, brinquedos, trouxeram Amor e Amor com Amor se paga! 💙

Ser e Ter Família no Natal

Há uma pergunta que, recorrentemente, nos fazem nesta altura do ano. “Como vai ser o Natal dos meninos?

E a nossa resposta tem sido sempre no sentido de apaziguar o coração de quem faz a pergunta: “Os meninos vão estar com a família! Esta frase tem sido suficiente para tranquilizar, faz respirar, de desfazer o nó que se instala na garganta.

O que queremos acrescentar é que a família destes meninos vai para além do biológico. Estes meninos têm uma família global, a Casa deles é uma casa comum, o mundo. Nós SOMOS e TEMOS família. E chegamos à conclusão que estes meninos representam aquilo que cada um de nós é e tem! Estes meninos somos nós!

Ser família é ser coração, é ter amigos, é ser solidário e fraterno, é ter amor, é ser grato e ter paz, é ser alegre! Afinal o Natal em nossa Casa nasce todos dias, e não é que o Natal é mesmo sobre nascimento? 💚

Inspire Generosidade

É hoje! Chegou o dia mais generoso do ano! Cada um de nós pode dar para mudar e pode contribuir com o que puder! Ao fazer a sua doação estará a oferecer máquinas de lavar e secar aos meninos da Casa da Criança de Tires! Faça a tua doação através do seguinte link https://ppl.pt/givingtuesdaypt/agenda-solidaria-casa-da-crianca-de-tires #casadacriançadetires #fundacaçãochampagnat #givingtuesday #givingtuesday2019 #agendasolidáriacasadacriança2020 #daparamudar #juntosfazemosmaisemelhor

Todos os dias são bons dias para sensibilizar!

A 18 de novembro, volta a assinalar-se o Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual, criado em 2015 por decisão do Conselho de Ministros do Conselho da Europa.

 O tema central da edição de 2019 é “Empoderar as Crianças para Acabar com a Violência Sexual”.

No sentido de implementar a celebração do Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual a nível local, regional e nacional, e porque o empoderamento das pessoas é indissociável da sua participação, a Comissão Nacional de Promoção de Direitos e Proteção das Crianças e Jovens disponibiliza um kit de material de apoio às CPCJ para facilitação de iniciativas que privilegiem a dimensão da participação em articulação com o empoderamento, preparado a partir de materiais do Conselho da Europa, acessíveis em https://www.coe.int/en/web/children/2019-edition.

 

AGORA é o teu momento!!

Viver no AGORA é muito mais que um carpe diem, de obter o prazer máximo do que nos rodeia, de viver inúmeras experiências vivendo emoções o mais fortes possível. Não se trata de espremer o presente até à última gota preterindo a instabilidade do amanhã e os erros do passado.

Também não é o exercício de uma presença vaga, sem qualquer referência à nossa tradição, (pessoal, social ou religiosa), evadindo-nos do que se passa diante dos nossos olhos e recostando-nos na auto satisfação pessoal, ou na liberdade enganadora do nosso ego que se esquece do e dos que o rodeiam.

Vai além de um ativismo (incluindo o hiperativismo vazio) em querer resolver todos os problemas do mundo como se estivéssemos um jogo do “Escape Room”, a contra relógio.

Propõe-te um exercício de consciência plena face às dimensões da tua vida e ao que ela representa AGORA:

. É a tua identidade pessoal, quem és. É a tua história mas também os teus sonhos e sobre forma estão implicados nas tuas decisões conscientes e nas ações que concretizas para viveres mais livre, mais pleno, mais protagonista do teu momento, mais TU.

. É a tua identidade social e familiar. Tu no teu mundo, tu nas tuas relações. Estar atento ao que acontece: as alegrias partilhadas, os riscos assumidos juntos e os desafios assumidos com responsabilidade. Esta realidade implica saber reconhecer-te, como funcionas na relação com o outro. Mas também, em saber observar profundamente quem é o outro, qual a sua identidade e como quem tu és e quem ele é constroem AGORA o que vocês são.

. É a consciência se que habitamos numa casa comum. Que se sustenta no cuidado e na utilização responsável dos recursos. Sendo conscientes que as nossas ações têm um impacto global.

. É a consciência de que há uma Realidade, com maiúsculas. Uma visão de sentido, de profundidade, de plenitude que existe, AGORA. Uma Realidade que não se alcança com a mente, nem com os sentidos, mas que se conecta com a tua essência mais profunda, com a tua SEDE de SER.

AGORA é o tempo em que se realiza a história na tua vida. Agora é o teu momento, a tua oportunidade de ser protagonista. Este é o teu desafio! É o teu momento. AGORA.

Urge uma atenção especial ao nosso sistema de proteção de crianças

O sigilo profissional obriga-nos a não expor os motivos subjacentes ao acolhimento das crianças que chegam à Casa da Criança de Tires. Contudo, a notícia que se segue seria uma possível história de uma criança que dá entrada nesta casa e é o reflexo das falhas adstritas ao sistema de promoção e proteção que peca pela morosidade dos tramites legais, pela insistência de que é possível estas famílias reorganizarem-se sem que haja concertação entre os vários intervenientes no processo, pela inexistência de uma intervenção que seja imediata, de proximidade e sistémica e pelo desinvestimento da própria família na sua capacitação e reabilitação. As crianças ficam mais tempo sujeitas a dinâmicas familiares disruptivas, com intervenções que pecam pela ausência de qualidade, de consistência e onde impera o bom senso de cada técnico, prevalecendo o assistencialismo. E esse hiato de tempo é demasiado longo para algumas crianças, senão para todas as crianças.

Seis anos, três denúncias e nenhum processo. O que falhou no caso das duas gémeas que viviam numa garagem.

Notícia do Observador de 23 de agosto de 2019.

Carolina Branco

MP e CPCJ dizem que não intervieram porque não conseguiram localizar os pais, depois de a casa onde viviam ter sido demolida. Mas a família só se mudou para o outro lado da rua — e muitos sabiam.

Dentro da casa está estacionado um carro. O pai das gémeas, João Moura, tentou escondê-lo, isolando-o do resto da habituação improvisada com uma parede de pladur, mas os buracos que ali se foram formando denunciam o que está do outro lado: um carro velho, lixo e muitos sacos. É que aquele espaço era, de facto, uma garagem que João e a mulher, Mariana Santos, adaptaram para ali poderem ir viver com a filhas. Na verdade, adaptaram não só a garagem, mas também o café adjacente — o que também é percetível pelo toldo vermelho da Buondi, já esburacado e sujo, que pende sob a porta que dá acesso à casa.

Nas outras divisões, o caos nem por isso é menor: há baratas em cima dos colchões do beliche onde as filhas dormem; as paredes e o teto estão a descamar por causa da humidade — que vai também destruindo os desenhos pintados pelas crianças; há pilhas de caixas de papelão com cobertores rotos e sujos lá dentro um pouco por todo o lado; a casa de banho não tem banheira; os pais dormem num sofá encardido na sala; a cozinha é o balcão do antigo café que ali existia.

Foi este o cenário que a PSP encontrou no dia 14 de agosto, quando se dirigiu à casa para institucionalizar as crianças e deter os pais por suspeitas de dois crimes de violência doméstica. “As vítimas do crime eram as filhas gémeas do casal, de 10 anos de idade, que, suspeita-se, viviam em condições deploráveis e sem salubridade no interior de uma garagem, andavam mal vestidas e higienizadas, não iam à escola e presenciavam agressões físicas e psicológicas permanentes entre os pais“, anunciava a PSP num comunicado emitido apenas cinco dias depois, a 19 de agosto.

“Viviam em condições deploráveis e sem salubridade no interior de uma garagem, andavam mal vestidas e higienizadas, não iam à escola e presenciavam agressões físicas e psicológicas permanentes entre os pais”

Comunicado da PSP

O caso era novo aos olhos da comunicação social, mas conhecido há muito pelas entidades competentes. A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Amadora conhecia-o, pelo menos, desde 2013, quando recebeu a primeira sinalização desta família. O Ministério Público (MP) conhecia-o, pelo menos, desde 2016. Nesse ano, recebeu das mãos da CPCJ da Amadora os processos relativamente a esta família, mas decidiu não abrir qualquer processo. Numa resposta escrita enviada ao Observador, a Procuradoria-Geral da República (PGR) explica que tudo foi feito para localizar a família, mas não conseguiram encontrá-la: é que a casa onde viviam, antes de se mudarem para a garagem, tinha sido demolida e ter-se-ia perdido o rasto da família. Nos três anos seguintes, ninguém fez nada. Só em 2019, após três sinalizações, os pais foram detidos e as crianças institucionalizadas.

A incapacidade de localizar a família surge, aliás, como resposta às várias interrogações sobre a falta de ação das entidades competentes até agora. Mas cria, ela própria, uma outra interrogação: como é que foi tão difícil encontrá-los quando, afinal, João, Mariana e a gémeas só se mudaram para o outro lado da rua, exatamente a 10 metros do local onde viviam antes e na mesma Estrada Militar da Damaia?

A primeira denúncia. Mariana e as gémeas foram para uma casa abrigo, mas saíram 15 dias depois — e ninguém lhes seguiu o rasto

A família nem sempre viveu naquela garagem. João e Mariana conheceram-se em 2007 — ela trabalhava num café e ele “era filho de um amigo do patrão”, conta a mulher brasileira, de 34 anos, ao Observador. Quando as gémeas nasceram, no ano seguinte, casal mudou-se para um apartamento que João tinha herdado da família, na zona da Damaia. A vida corria-lhes bem: Mariana foi sempre conseguindo trabalhar em cafés ou empresas de limpeza. João trabalhava na sua oficina de automóveis na Estrada Militar, na Damaia — que existia exatamente em frente à garagem onde atualmente vivem. Além disso, tinham arrendado o primeiro andar dessa oficina — ganhando assim algum dinheiro extra.

“Mas ele [João Moura] tinha uma dívida às Finanças“, desabafa Mariana. O que levou o casal a vender o apartamento para saldar a dívida. Como o primeiro andar da oficina na Estrada Militar estava arrendado, Mariana e João construiram um anexo na parte de trás para passar a ser a sua casa nova — alegadamente sem autorização. “Gastámos mais de 10 mil euros. Passámos noites ali a fazer o chão. Pus um soalho no quarto das meninas que parecia de profissional”, conta a mãe.

Foi à porta daquele anexo que a CPCJ bateu em 2013. Em outubro desse ano, os alarmes soaram pela primeira vez: chegava à comissão a primeira denúncia relativa a duas crianças “por exposição a situação de violência doméstica”. O caso era o de uma família pobre: um casal com duas filhas gémeas, à data com cinco anos, a viver numa habitação ilegal. João e Mariana, que entretanto se tinha despedido para ajudar o marido, estavam a passar aquilo que a mulher descreve como “um momento mau”. Ambos desvalorizam, porém, as alegações de violência doméstica. “Eles [os elementos da comissão] estiveram lá, viram o quarto das meninas, viram a casa que a gente fez. Tivemos uma conversa. E perguntaram-me se eu queria sair de casa com as minhas filhas”, relata Mariana.

“Eles [os elementos da comissão] estiveram lá, viram o quarto das meninas, viram a casa que a gente fez. Tivemos uma conversa. E perguntaram-me se eu queria sair de casa com as minhas filhas”

Mariana Santos, mãe das gémeas

Aceitou. No dia 26 de dezembro de 2013, mãe e filhas foram para uma casa abrigo, para serem afastadas da violência doméstica a que estariam sujeitas por parte de João. Uma vez ali protegidas, o processo de promoção e proteção das menores foi arquivado — por se considerar que já não estavam expostas ao perigo. O que aconteceu a seguir, a CPCJ diz que não sabe, uma vez que não acompanha os casos arquivados nem é informada do desenrolar dos mesmos. O problema é que o que aconteceu foi que, duas semanas depois de ter dado entrada na casa abrigo, Mariana descobriu que estava grávida e decidiu voltar para casa, com as gémeas. “Vou voltar para a minha casa, com o meu marido. Vamos tentar”, recordou a mulher. E voltou, acabando por ter um aborto espontâneo.

Este regresso, porém, parece ter ficado fora do radar de qualquer entidade com competência para assegurar a segurança das crianças. Alguém devia ter acompanhado a Mariana e as filhas, depois da decisão de voltarem para casa? Se sim, não é claro quem o devia ter feito. A instituição que as acolheu não podia impedir a saída de Mariana, uma vez que as decisões das vítimas são sempre respeitadas, nem a saída das crianças, uma vez que estavam acompanhadas pela mãe. Também é certo que não se sabe qual a versão apresentada por Mariana junto da casa abrigo: podia, por exemplo, ter mentido e ter dito que ia para a casa de familiares. A instituição responsável pela casa abrigo poderia sempre ter comunicado a situação à CPCJ — o que poderia, por exemplo, ter motivado a reabertura do processo de proteção das gémeas —, mas não o terá feito por não ver ali qualquer perigo.

A CPCJ diz que deixou de acompanhar o caso precisamente por causa do “afastamento” de Mariana e das filhas “da situação de perigo”, que ditou o arquivamento do processo. Mas a Lei de Proteção de Crianças e Jovens diz que “a medida aplicada é obrigatoriamente revista findo o prazo fixado no acordo ou na decisão judicial, e, em qualquer caso, decorridos períodos nunca superiores a seis meses”. O Observador questionou a CPCJ sobre se esta revisão, supostamente obrigatória, foi feita, mas a comissão recusou responder.

Independentemente de quem tinha a responsabilidade, o certo é que mais ninguém procurou Mariana e as filhas para saber se estavam bem — e foi assim durante os três anos seguintes, até 2016.

A segunda denúncia. Processos não avançaram por não ser possível localizar os pais. Mas família só se tinha mudado para o outro lado da rua

Em 2016, a família ficou sem casa. Em outubro desse ano foi “promovida a demolição da construção”, confirma a Câmara Municipal da Amadora ao Observador, mas sem esclarecer porquê. Certo é que terá sido um momento determinante em quase tudo o que aconteceu — ou não aconteceu — a seguir.

Sem sítio onde viver, a família decidiu ocupar o espaço na garagem que tinha mesmo em frente, do outro lado da mesma rua — o número 23 da Estrada Militar, na Damaia. Mas, a partir dali, é como se tivesse desaparecido, pelo menos para as entidades que a procuraram quando surgiu uma nova denúncia de maus tratos às crianças.

A destruição da casa é, aliás, apontada por várias entidades — Câmara Municipal, CPCJ e Ministério Público — como justificação para o facto de, durante os três anos que se seguiram a essa segunda queixa, nada ter sido feito: ninguém sabia para onde tinham ido viver, depois da demolição da casa, e isso tornava impossível notificá-los, contactá-los ou acompanhar a situação. Ninguém esclarece, porém, quantas tentativas foram feitas e por que meios.

Essa nova sinalização, três anos depois da primeira, voltava a apontar para a eventual exposição das crianças a uma “situação de violência doméstica”. O processo de 2013 foi reaberto e, segundo explica a CPCJ da Amadora em comunicado, “foram feitas diversas diligências para contactar os pais e obter o consentimento para a intervenção e assim proceder-se à avaliação da situação de perigo reportada”. Tal não chegou a acontecer “por desconhecimento do seu paradeiro”. Por outras palavras, a CPCJ não conseguiu encontrar a família — o que levanta dúvidas sobre a celeridade com que os técnicos procuraram fazê-lo. É que esta denúncia foi recebida em setembro, um mês antes de a casa anterior ter sido demolida. Ou seja, quando a família foi sinalizada pela segunda vez, ainda vivia na casa que a CPCJ da Amadora visitou em 2013 — aquando da primeira sinalização.

“Foram feitas diversas diligências para contactar os pais e obter o consentimento para a intervenção e assim proceder-se à avaliação da situação de perigo reportada”

CPCJ da Amadora

Seja como for, e perante a impossibilidade de encontrar os pais das crianças para avaliar a validade da denúncia, a CPCJ da Amadora decidiu “remeter os processos para os serviços do Ministério Público”. A explicação é simples: contactar os pais não era só necessário para encontrar as crianças — era também obrigatório perante a lei: a CPCJ só pode atuar com o consentimento dos pais. Qualquer medida à força, sem o acordo da família, tem sempre de ser determinada pela justiça.

Também aqui o processo não foi veloz. Segundo a Procuradoria-Geral da República, a informação da CPCJ sobre o caso só chegou ao Ministério Público seis meses depois da denúncia. “Em março de 2017, a CPCJ remeteu ao Ministério Público os processos de promoção e proteção que tinha instaurado a favor das crianças por não ter conseguido obter consentimento legitimador da sua intervenção face ao desconhecimento do paradeiro dos pais”, lê-se na resposta da PGR, enviada por escrito ao Observador.

Quando recebeu toda a informação da CPCJ, o Ministério Público “abriu um processo interno com vista a recolher elementos que o habilitassem a propor uma ação judicial” — na prática, procurou reunir elementos para decidir se avançava com um processo ou não — e começou a procurar os pais e as crianças, como já tinha feito a comissão. Para isso, o MP pediu ajuda extra de outras entidades: polícia, Segurança Social e Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares. Mas nenhum deles os encontrou. “Não foi possível tal localização, desde logo atenta a demolição da construção onde terão habitado e o desconhecimento da sua nova morada”, explica a PGR, adiantando que, sem encontrar as crianças, não foi possível sequer instaurar um “processo judicial de promoção e proteção, o qual, necessariamente, pressuporia o conhecimento do paradeiro das crianças”.

A dúvida, porém, é imediata: como é que PSP, Segurança Social e Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares não conseguiram encontrar uma família que continua a viver na mesma rua e a apenas 10 metros do local onde vivia antes?

Até agora, ninguém parece ter uma resposta. Mas basta olhar para alguns elementos para perceber que a tarefa talvez não fosse assim tão difícil. Sobretudo tendo em conta que as crianças também não viviam propriamente escondidas: ironicamente, aparecem nas imagens captadas pelo Google Maps da rua onde continuaram a viver.

Pais terão alertado a Segurança Social

Segundo os pais, as obras de demolição da casa, em 2016, foram acompanhadas por alguns elementos da Segurança Social, que ficaram a saber de imediato que a família ia mudar-se para a garagem em frente. “Elas [assistentes sociais] sabem bem onde é que eu estou porque, no dia em que a casa foi abaixo, duas assistentes sociais que vieram viram-nos a colocar as coisas aqui”, conta Mariana, referindo que chegou a confrontá-las com a situação: “Você está a ver onde eu vou dormir com as minhas filhas?”. O pai das crianças explica também que aquela garagem e aquele café, que acabaram transformados em casa, eram de um familiar que os deixou ficar ali.

“Elas [assistentes sociais] sabem bem onde é que eu estou porque no dia que a casa foi abaixo, duas assistentes sociais que vieram, viram a gente a colocar as coisas aqui”

Mariana Santos, mãe das gémeas

Contactada pelo Observador, a Câmara Municipal da Amadora disse apenas que, após a demolição, o arrendatário que vivia no piso de cima “teve acompanhamento da Divisão de Intervenção Social Municipal com vista à sua autonomização habitacional” e que a família, como não fez “qualquer candidatura a atribuição de habitação municipal”, “abandonou o bairro”. O Observador confrontou a Câmara com a versão dos pais, que garantem que não só não abandonaram o bairro e como terão dito logo no dia da demolição que iam viver para aquela garagem, mas ainda aguarda resposta.

Câmara sabia desde 2016 que pai tinha uma oficina no local onde, afinal, viviam

Outro elemento que contraria a ideia de um desaparecimento da família sem deixar rasto — e que mostra que seria possível chegar a uma morada, pelo menos, de contacto — é que a autarquia sabia desde 2016 que a família podia ser localizada naquela garagem. E foi a própria Câmara Municipal a admiti-lo, ao confirmar, na mesma resposta escrita enviada ao Observador, que nesse ano, João Moura “alegou ainda ter atividade comercial no espaço correspondente ao número 23 da Estrada Militar da Damaia, construção não cadastrada não habitacional, onde labora uma oficina (construção onde agora foi detido)”. Ou seja, mesmo podendo não saber que a família vivia ali, a autarquia sabia que o pai das crianças tinha lá uma oficina, onde poderia ser encontrado.

Crianças têm vacinas em dia e um das gémeas esteve internada em 2018

Também o Hospital Santa Maria contactou com, pelo menos, uma das gémeas. A 3 de novembro de 2018, a criança deu entrada neste estabelecimento hospitalar, onde lhe foi diagnosticada escarlatina, acabando por ficar internada durante mais de 20 dias. Além disso, as gémeas têm todas as vacinas em dia, como verificou o Observador através do boletim de vacinas das crianças — o que indica que, pelo menos para serem vacinadas, as crianças estavam inseridas no Sistema Nacional de Saúde.

Mariana e João “eram muito conhecidos” e as meninas andavam sempre na rua

Se o conhecimento de entidades como a câmara ou o centro de saúde poderia não ter ajudado na procura pela família — por falta, por exemplo, de partilha de informação real entre as várias bases de dados —, há um outro elemento que deixa claro que havia mais quem soubesse que pai, mãe e duas filhas viviam ali.

A começar, claro, pelo vizinhos que, segundo Mariana, continuavam a ver a família, recusando também a ideia de que não deixava as crianças saírem de casa. “As meninas andam sempre por aqui. Às vezes iam lá à tarde ao supermercado, toda a gente as conhece”, garante.

Mas, mais que isso, a própria PSP — que, segundo a PGR, não conseguiu encontrá-los — conhecia-os bem. Foi isso mesmo que disseram ao Observador alguns agentes de uma das esquadras daquela zona, e de forma muito clara: Mariana e João são muito conhecidos e toda a gente sabia onde viviam.

À terceira denúncia, a família é encontrada pelo MP

Em julho de 2019, a CPCJ da Amadora recebeu um nova denúncia de “negligência grave relativa a duas crianças” e abriu um novo processo de promoção e proteção. De imediato, diz em comunicado, pediu “a colaboração da PSP para identificação e notificação dos pais, por forma a obter o necessário consentimento para a intervenção e avaliar a situação de perigo reportada”. Mas, mais uma vez, não foi “possível chegar ao contacto” com os pais e a comissão acabou por remeter de novo o caso “com carácter de urgência para os serviços do Ministério Público”.

O desfecho é o que se conhece: desta vez, o MP conseguiu localizar a família e os elementos da PSP chegaram à morada certa. “Todos habitam na Estrada Militar da Damaia, n.º 23, que é uma garagem/oficina de pneus”, lê-se no mandado de detenção a que o Observador teve acesso. No documento apresentado aos suspeitos no dia 14 de agosto, todos os indícios contra o casal aparecem enumerados: que os pais “são toxicodependentes e praticam os atos de tal natureza também em casa e na presença das menores”; que as gémeas “nunca frequentaram a escola” nem “qualquer estabelecimento de saúde”; que estão “subnutridas” e “sujas”; que a casa “não tem condições de salubridade” e as crianças “coabitam com ratos e outros animais”; que “durante o dia as crianças são fechadas” e apenas é autorizada a sua saída “no período da noite”; e que João Moura “anda armado”.

“Durante o dia, as crianças são fechadas em casa, apenas permitindo os denunciados a sua saída à rua no período da noite”

Mandado de detenção dos pais

Os pais, suspeitos de dois crimes de violência doméstica, foram presentes a tribunal e foi-lhes aplicada a medida de coação mínima, o Termo de Identidade e Residência. As gémeas foram levadas para uma instituição. “No âmbito deste processo proceder-se-á ao completo diagnóstico da situação atual e do quadro familiar e social que à mesma conduziu”, explica a PGR. A investigação está em curso e está em segredo de justiça. Os pais negam qualquer prática de crime. “Temos uma falha: elas não foram à escola. Mas agora estarmos acusados de crime? Isso é tudo mentira“, garantem.

O outro lado da adoção

A adoção e as suas inúmeras facetas! Uma entrevista sobre o outro lado, uma visão sobre a outra realidade!

Notícia e imagem da Rádio Renascença de 7 de agosto de 2019.

Miguel Coelho , Cristina Nascimento

Nos últimos três anos, 53 crianças em processo de adoção foram devolvidas às instituições. Ana Kotowicz, mãe de duas filhas adotivas, relata à Renascença as dificuldades do processo e confessa que, no primeiro mês de adoção, percebeu porque é que há pessoas que desistem.

Nos últimos três anos, 53 crianças que estavam em processo de adoção foram devolvidas às instituições que as acolhiam. Os números foram avançados pelo jornal “Diário de Notícias” esta semana.

Segundo os relatórios do Conselho Nacional de Adoção e CASA, em 2016 foram interrompidas 19 adoções. Em 2017, foram 20 as crianças que regressaram às instituições que cuidavam delas. Em relação a 2018, os dados ainda não foram revelados, mas o jornal avança que terão sido 14.

Perante este cenário, a Renascença falou com Ana Kotowicz, jornalista e mãe de duas crianças que adotou há três anos. Na altura, tinham quatro e cinco anos. Ana Kotowicz relata as dificuldades do processo. “É muito, muito, muito duro.” Também confessa que, no primeiro mês em que tinha as crianças em casa, ficou a perceber porque é que há pessoas que desistem.

Autora do livro “Adotar em Portugal — Um guia para futuros pais”, Kotowicz considera que o processo “não é o bicho de sete cabeças que as pessoas às vezes querem fazer parecer” e defende o escrutínio rigorosa das famílias.

“São crianças que estão à guarda do Estado, são crianças que já passaram por muito e o Estado tem de ter garantias absolutas de que está a entregá-las às famílias certas”, ressalta.

O processo é tão difícil e complicado como acreditamos ser?

É complicado, mas se calhar não é tão complicado quanto devia ser. E não o é porque se fosse mais complicado ainda não tinha as chamadas ‘devoluções’. Pessoalmente, o que eu acho sobre o próprio processo em si é que não é o bicho de sete cabeças que as pessoas às vezes querem fazer. Nós temos de ser avaliados, são crianças que estão à guarda do Estado, são crianças que já passaram por muito e o Estado tem de ter garantias absolutas de que está a entregá-las às famílias certas. Acho bem que os candidatos sejam bastante avaliados. Por outro lado, há muito mais famílias a querer adotar do que crianças à espera de serem adotadas, portanto também é preciso fazer alguma triagem.

Se há mais famílias a querer adotar do que crianças a ser adotadas, porque é que há tantas crianças que não encontram uma família?

Tradicionalmente sempre houve mais famílias à procura de crianças para adotar do que crianças adotáveis. Este último relatório do Conselho Nacional de Adoção mostra-nos que há sete vezes mais candidatos do que crianças, é um número que disparou. O que acontece é que a maior parte dos candidatos quer as crianças que não existem nas instituições. A maior parte dos casais vem de processos de infertilidade, portanto idealizou um filho e ainda está a fazer o luto da infertilidade e procura aquilo que não teve — um bebé.

Os candidatos a pais podem escolher o tipo de criança?

Claro que podem. Pense o que seria o contrário. Candidatas-te a adotar e, de repente, dizem-te que vais levar para casa um adolescente de 13 anos com deficiência e problemas comportamentais. Não podem. Portanto, por muito isso que isso custe, tem de se fazer o desenho da criança que se está disponível para adotar. Isso é muito importante e é muito importante que os candidatos sejam 100% honestos, porque se se diz que se está à vontade para adotar uma criança de nove anos mas, na verdade, é mentira, quando ela chegar a casa não vai correr bem.

E a criança também tem uma palavra a dizer, uma vez que, de certa forma, a criança também adota a família?

Claro, e esse se calhar é o lado mais importante da integração daquela criança, que já passou por tanta coisa, que traz tantas marcas, na família. A criança pode ser ouvida e estes processos que são interrompidos podem ser interrompidos a pedido da criança.

Nestes casos em que as crianças são devolvidas, que principais fatores podem concorrer para o fracasso de uma adoção?

Na minoria dos casos, em 2017, dizem-nos que, dos 20, em dois foi porque as crianças não se adaptaram à família. O que é que leva uma adoção a ser interrompida? Pode ser a criança que não se adapta, podem ser os futuros pais que não se adaptam, podem ser os serviços sociais a perceber que a coisa não está a correr bem naquele momento e que não vai nunca correr e, portanto, os próprios serviços sociais decidirem interromper aquela adoção.

Acha que se houvesse um maior acompanhamento depois de a criança ser adotada, um maior acompanhamento daquela família e da criança pelas instituições, as coisas podiam correr melhor?

Acho que isso era fundamental. Eu acho que há dois momentos que são muito importantes: o momento antes de a criança chegar à família e o momento em que ela chega à família. Antes de a criança chegar à família, a maior parte das pessoas ainda tem uma ideia muito romântica e por muito que oiça histórias acha sempre “Comigo vai ser diferente, comigo vai correr tudo bem”. As coisas nunca correm bem. O primeiro mês, o segundo mês, são sempre meses muito difíceis, muito terríveis.

Que principais conselhos é que deixaria a uma família que pretende adotar uma criança?

Para já que percebam que vai ser mesmo muito difícil. Quem está à espera de uma criança que chega a casa e diga “Muito obrigada por me ter trazido para aqui”, esqueçam, isso não acontece. As crianças vêm com uma série de problemas, vêm com uma série de marcas. já por qualquer motivo foram arrancadas às suas famílias biológicas e mesmo que haja motivo para isso nem sempre as crianças o percebem e se calhar preferiam estar com os pais biológicos, com todos os erros e com todos os problemas que eles têm.

Depois, por outro lado, não nos podemos esquecer de que não há ligação afetiva entre as crianças e os pais durante os primeiros meses. São meses muito complicados, porque tu estás a tentar criar uma ligação afetiva à criança e a criança a ti, está tudo a correr mal e elas estão a ser crianças, estão a ser impossíveis, estão a fazer birras e a testar os limites para perceberem até onde é que podem ir com aquela família.

Isso desencoraja qualquer um. Não há uma visão um pouco mais positiva?

Não, não há.

No teu caso tens dois filhos adotados. Que idades têm agora?

São duas filhas, têm sete e oito anos.

O que é que te lembras desse processo, qual foi o teu maior desafio?

Foi um inferno, esse primeiro mês foi um inferno. Lembro-me de, à noite, depois de elas irem para a cama, eu dizer ao meu marido “Então é por isto que algumas pessoas desistem”. É mesmo muito, muito, muito duro. É desde que saem da cama até que se deitam a testar todos os limites, tudo o que tu dizes e pelo caminho vais ouvindo coisas do género “Quem me dera que fosses melhor mãe; Porque é que me escolheram esta família e não me escolheram uma família melhor; Vou telefonar para a instituição a pedir para me virem buscar para ver se me arranjam outra família”. Portanto, naquele momento, naquele primeiro mês, segundo mês, não existe amor, existe predisposição para o amor, do teu lado e do lado da criança. Se para nós, adultos, é difícil, imagina para as crianças… Porque nós somos estranhos, nós ainda não somos pais.

Elas estão contigo há quanto tempo?

Estão connosco há quase três anos.

E passado este tempo?

Passado este tempo somos uma família como as outras. Elas são duas pestes, mas também são dois anjinhos [risos].

Como é que ultrapassaste os momentos mais difíceis?

Não sei exatamente como é que acontece. Sei que há um dia em que tudo entra em velocidade de cruzeiro e passas a ser uma família como as outras. Mas eu acho que há uma coisa fundamental: sempre que elas nos testam, é manter a tua postura, manter os limites, não os deixar ultrapassar e, principalmente, desde o primeiro momento, deixar claro que somos uma família que vai estar com elas para sempre. Essa era uma questão que vinha muitas vezes à baila: “Quando é que o juiz vai decidir que afinal vocês também não são bons para nós?” Esse sentimento estava lá sempre.

Tu não tens filhos biológico. Sentes que amas as tuas filhas como poderias amar um filho biológico?

Não sei se poderia amar um filho biológico mais do que eu já amo as minhas filhas. É o que eu posso dizer.

Hóspedes do Tempo

“Os meses de verão são, por norma, tempo aproveitado para recuperar forças, tempo pessoal, tempo para dedicarmos a todos aqueles que constituem a nossa base sentimental. Findas as férias, fica quase sempre a sensação que soube a pouco, que passou rápido demais. O tempo e a velocidade com que ele passa pela nossa vida têm muito que se lhe diga.

Recentemente, tive a oportunidade de participar num workshop de Introdução à Interioridade.Percebi que, entre outros, um dos níveis da interioridade é exatamente o tempo. Fiquei também a entender que os gregos antigos utilizavam duas palavras para o tempo: chronos e kairós. A primeira palavra refere-se ao tempo cronológico ou sequencial, ao tempo que se mede, de natureza quantitativa. A palavra kairós possui uma natureza qualitativa e representa o momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece.

A vida terrena é feita de tempo chronos. Para alguns de nós, esse tempo revela-se insuficiente para tudo o que desejaríamos fazer. Somos uma espécie de hóspedes por tempo indeterminado.
A boa notícia é que a vida terrena é também feita de tempo kairós. Cabe a cada um de nós fazer com que esse tempo aconteça.

Para muitos de nós, existem fases em que os acontecimentos estão ao nosso lado e nós vamos
tão depressa, tão focados nas nossas metas que perdemos o tempo. Noutros momentos, é o tempo que passa ao nosso lado e nós deixamos que ele avance.

A expressão “realização pessoal e profissional” continua na moda e não deixa de ser essencial no nosso rumo. A minha colaboração na Fundação Champagnat possibilitou-me conhecer pessoas que utilizam os seus talentos ao serviço dos outros. Olhando para elas, apercebo-me que, independentemente da sua idade, estão cheias de tempo e quanto mais tempo dão aos outros, mais tempo ganham. Talvez seja essa a verdadeira magia dos afetos: quanto mais damos, mais ricos nos tornamos.”

Interrupção da Adoção

De volta a um caminho já percorrido… e a afirmação:” Para a próxima escolham uns melhores pais para mim!”, fica sem resposta… Assim foi gerida a dor depois de uma adoção que não correu bem!

Notícia e imagem do DN Life de 30 de julho de 2019.

“Fui devolvido. Ninguém me quer…”

Em 2016, foram devolvidas 19 crianças que estavam em processo de adoção. Em 2017 foram 20 e no ano passado, 14. Ao todo, são 53. Em termos percentuais, o número é reduzido relativamente ao total das que foram adotadas ano a ano. Cerca de 7% ou menos, mas as marcas, essas, ninguém as apaga da memória de quem se sentiu rejeitado.

Texto de Ana Mafalda Inácio

Sandro e o irmão foram devolvidos duas vezes pelas famílias que os adotaram. Sandro era o mais velho, o mais malcomportado e feioso, segundo as famílias. Pedro e João foram devolvidos uma vez. A família que os adotou considerava que já tinha outros filhos – os seus animais de estimação – e que eles foram perturbar a rotina. Samuel foi vítima de abusos na infância e foi parar a uma instituição. Teve como projeto de vida a adoção. Tornou-se parte de uma família que não tinha filhos, cujo pai também teve uma história de abuso na infância e não conseguiu lidar com a situação. Tempos depois, Samuel voltou à instituição e ainda hoje, quando se refere àquela família, os considera como os seus pais. Nunca mais voltou a ser adotado.

Simão tinha 9 anos quando ele e a irmã mais nova foram devolvidos à guarda do Estado, mas seguiram caminhos diferentes. Ele foi para uma instituição e ela para outra. O tribunal acabou por decidir que um e outro seriam adotados individualmente. Ela já foi adotada, ele está na pré-adolescência e com perfeita consciência de que não será fácil uma segunda oportunidade, uma segunda família, mas continua a perguntar a quem o ouve se já lhe arranjaram uma família. Desabafando tantas vezes: “Fui devolvido, ninguém me quer…”

Estas são histórias que deixam marcas, até nos técnicos que lidam com os processos de adoção ou nos psicólogos que acompanham as crianças ou que avaliam posteriormente os processos que falharam. São histórias que dão que pensar. Por isso, “quando uma adoção é interrompida, é obrigação de todos os técnicos se questionarem. É obrigação porem em causa todo o processo para se perceber o que falhou, porque pode ter havido algum fator de risco, um sinal, que não tenha sido bem avaliado”, a afirmação é de Isabel Pastor, diretora da Unidade de Adoção, Apadrinhamento Civil e Acolhimento Familiar da Santa Casa de Lisboa, numa entrevista ao DN. E reforça: “Por vezes, é mais fácil perceber os sinais depois de a situação ter corrido mal, mas não podemos deixar de o fazer.” Até porque as falhas podem estar na avaliação que se fez da família que, afinal, não correspondia ao perfil que se traçou, pode estar na falha da formação dada aos candidatos, no apoio que lhes é dado, pode estar até na falta de preparação da própria criança para a adoção. “Estamos a lidar com crianças que já se sentem rejeitadas, abandonadas, que trazem, por vezes, uma história muito marcante e que irão sempre testar até ao limite qualquer família. E estas têm de ter as motivações certas e estarem bem preparadas”, argumenta Isabel Pastor.

O futuro é imprevisível, mas as histórias servem de alerta para que outros não tenham de as viver. “As marcas que deixam não são apagadas”, dizem-nos. Por muito que se diga que o número de crianças devolvidas é reduzido comparativamente ao total das que ano a ano integram famílias, nada atenua o sentimento de rejeição, porque é assim que as crianças se sentem. “O número até pode ser reduzido em termos percentuais, mas para as 20 ou 15 crianças que criaram expectativas de ter uma família, que chegaram ao ponto de conhecer os candidatos, de ir viver com eles e depois regressam à instituição, é muito complicado e em alguns casos dramático”, diz a psicóloga Rute Agulhas, que acompanha menores em acolhimento e que fez parte da comissão da Ordem dos Psicólogos que reviu o processo de avaliação dos candidatos à adoção.

“Há expressões que se ouvem de algumas famílias e que chocam: “Se isto continua assim vou entregá-lo”; ou que “venderam-me gato por lebre”.

De acordo com os dados oficiais, nos últimos três anos, foram devolvidas 53 crianças às instituições de onde saíram no período de transição ou de pré-adoção. Os relatórios do Conselho Nacional de Adoção e CASA, Caracterização Anual da Situação de Acolhimento, dão conta de que em 2016 regressaram ao sistema por interrupção de adoção 19 crianças; em 2017 regressaram 20 – 13 tinham mais de 7 anos, 11 eram do sexo feminino, nove do masculino e dez eram grupos de irmãos. Em 2018, embora não tenha sido ainda divulgado o relatório do CNA relativo a este ano, o DN apurou que foram devolvidas 14 crianças. Ou melhor, que 14 crianças viram o seu processo de adoção interrompido, é assim que os técnicos e os relatórios oficiais designam a situação.

“Dizer que uma criança foi devolvida choca, mas para elas é isso mesmo. E dizem: ‘Fui devolvido, fui rejeitado, ninguém me quer…’”, explica ao DN a psicóloga. No ano passado, foram seis as situações interrompidas no período de transição, que dura 15 dias a um mês após a criança e a família se conhecerem, e oito já na fase de pré-adoção, nos seis meses que se seguem ao tribunal decretar a adoção.

Mas há algumas que são entregues já depois deste período, pois, segundo os técnicos, esta é a fase do enamoramento entre a criança e a família. Outras regressam mais tarde, chegam a viver anos com as famílias, mas “são devolvidas quando começam a crescer e a dar problemas comportamentais, próprios da idade de quem está na adolescência”, refere ao DN Rute Agulhas. Só que estes dados já não aparecem nas estatísticas oficiais, portanto “os casos são chegam aos técnicos e têm de ser avaliados. Se calhar, o que falta, e quando se trata de uma situação mais avançada, é apenas falta de acompanhamento das famílias, e isso tem de ser repensado”, sublinha a psicóloga.

Chocam algumas expressões que se ouvem da boca de algumas famílias, chocam relatos e desabafos dos jovens que passam por estas experiências. “Já tive de avaliar processos em que as famílias me disseram que os filhos cresceram e não lhes estão gratos – ‘não agradece o que fiz por ele’. Ou que não correspondem às expectativas e, sendo assim, ‘vou entregá-lo’; Ou até ‘venderam-me gato por lebre’, como se os técnicos que estiveram no processo de adoção os tivessem tentado enganar”, conta Rute Agulhas. Acrescentando: “Expressões de quem queria um filho feito à medida, como se houvesse uma receita, e que não o teve. Os filhos biológicos não são feitos à medida e vamos devolvê-los?”

Por isso diz que “a avaliação dos candidatos à adoção é muito importante, mas não só. O acompanhamento durante o período de transição e até pós-adoção também. Muitas famílias alegam que se sentem sozinhas sem saber como reagir perante algumas situações. Se tivessem mais apoio talvez o conseguissem fazer e da forma adequada”.

Sandro carrega o peso de ter sido devolvido duas vezes

O que é para ti uma família? Sandro não teve dúvidas na resposta e desenhou um balão negro a flutuar no ar. A imagem é recordada pela psicóloga que com ele falou depois de ter sido devolvido pela segunda vez por famílias que se candidataram à adoção. Sandro, (nome fictício), tinha 9 anos e um irmão mais novo, de 5. Para ele, a família é igual a nada – ou a rejeição, ou a instabilidade. Sandro foi, supostamente, o culpado pelas situações: “É rebelde e feioso”, alegaram as famílias.

Nas duas vezes, Sandro e o irmão foram viver com as famílias, mas pouco depois estavam a ser entregues à instituição de onde tinham saído. “As famílias alegaram que ele se portava mal. A primeira chegou a verbalizar que não correspondia às expectativas e que era feioso, fiquei chocada quando li isto no processo”, explica Rute Agulhas.

A primeira família propôs-se adotar apenas o mais novo, era mais pequeno, menos rebelde e mais bonito, louro, de olhos azuis. Sandro trazia marcas, memórias, tinha passado por muito, já tinha sentido na pele a rejeição da própria família e não estabelecia vínculos, desconfiava e testava. “Mas quem não o faz? Estas crianças são assim. Trazem bagagem, por vezes muito marcante, as famílias candidatas têm de estar preparadas para isso”, sublinha a psicóloga.

“Por vezes chegamos a situações de devoluções porque as famílias se sentem sozinhas, ficam sozinhas, e não conseguem lidar com as situações.”

Da segunda vez, foram adotados por um jovem casal e nada fazia prever que corresse mal. “Li o processo e não havia indicadores”, confirma Rute Agulhas. A família parecia estar bem preparada, mas Sandro e o irmão foram de novo entregues à instituição no período de pré-adoção. “Não queriam ficar com os dois, só com o mais novo”, explica-nos. Era a segunda situação de interrupção de integração na família.

E a vida de Sandro chegou ao ponto de o próprio irmão “o acusar de não terem uma família”. “Foi horrível quando os ouvi. O mais novo dizia que ‘já tivemos duas famílias e os pais devolveram-nos porque o mano se porta mal, não quero ir para mais nenhuma família com ele’.”

As duas situações marcaram a relação entre Sandro e o irmão. Ele assumia: “Sou o culpado de tudo.” Mas, apesar de ter consciência disso, não conseguia evitá-lo. “Sei que estou a atrapalhar a vida do meu irmão”, chegou a referir. O irmão apenas queria uma família e não a tinha por causa dele.

“O desenho que fez sobre a família revela tudo: a ausência de vínculos. Por isso, testava as famílias que os acolhiam até à exaustão, mas no fundo o que queria era que lhe dissessem e mostrassem: não vais ser rejeitado mais uma vez”, argumenta a psicóloga, que sublinha: “Há famílias que têm as motivações certas, outras não. Mas mesmo as que têm devem ser acompanhadas. Por vezes chegamos a situações de devoluções porque as famílias se sentem sozinhas, ficam sozinhas e não conseguem lidar com as situações.”

Dificuldade em lidar com os desafios

Das 20 crianças devolvidas em 2017, só em duas situações a interrupção “foi motivada por uma resistência recíproca entre crianças e candidatos. Na maior parte das vezes, o fundamento das interrupções é atribuído à dificuldade ou à incapacidade de vinculação por parte dos candidatos”, refere o relatório CASA relativo a esse ano.

“Algumas vezes os candidatos mostraram dificuldade em lidar com os desafios e as exigências do processo, denotando falta de conhecimento ou um desfasamento entre as suas expectativas e o real perfil das crianças. Muito excecionalmente, este facto chegou a gerar castigos desproporcionados ou reações violentas”, lê-se ainda.

Em outros casos, o insucesso ocorreu por “indisponibilidade dos candidatos para o projeto de adoção por estarem demasiado centrados nas suas próprias necessidades, mais do que nas das crianças, ou por estarem noutros projetos incompatíveis, profissionais ou pessoais, com a fase do processo que estavam a vivenciar”.

A psicóloga Rute Agulhas alerta: “As famílias que são avaliadas hoje não são as mesmas que vão receber uma criança daí a três, quatro ou mais anos. Neste período, muita coisa pode mudar na vida das famílias e a avaliação e a seleção dos candidatos deveria ter isso em conta. Nem que fosse necessária uma reavaliação. Por vezes, em determinado momento, não se dá a devida importância aos sinais transmitidos pelos candidatos, mas mais tarde estes podem ser reavaliados e isso poderá evitar algumas das situações de insucesso.”

Pedro e João: devolvidos porque perturbaram a rotina familiar com os animais de estimação

Pedro e João nasceram na mesma família biológica, que os maltratou. Foram retirados e entregues à guarda do Estado. Aguardaram na instituição por uma família que os adotasse. Quando esta apareceu ficaram felizes. Pedro tinha 9 anos, João 6. Meses depois estavam a regressar à instituição. O casal alegou que a presença das crianças perturbou a rotina familiar que já existia anteriormente.

Este é dos casos em que Rute Agulhas diz ter visto sinais de que a situação poderia não correr bem assim que consultou o processo. “Quando me deram o processo para avaliar, depois de as crianças terem sido entregues à instituição, percebi que havia sinais, que deveriam ter sido trabalhados e não foram, que indiciavam que as coisas poderiam não correr muito bem.” E dá um exemplo: “Os candidatos foram convidados a fazer um livro de acolhimento para as crianças. Quando vi o livro, fiquei perplexa. Tinha fotografias do casal, da casa e dos animais de estimação acompanhadas por uma legenda: ‘Este foi o nosso primeiro filho, este o segundo, o terceiro…’ Havia umas seis ou sete fotos de animais de estimação, só depois aparecia um espaço para se colocar as fotos das crianças. Acho que isto era paradigmático de que algo se passava com estes candidatos.”

Ou seja, “um casal que olha para as crianças que vai adotar como o sétimo ou oitavo filho, após seis ou sete animais, não tem as motivações certas. As crianças foram lá para casa e algum tempo depois o processo foi interrompido. Um dos argumentos da senhora era o de que as crianças foram perturbar a vida familiar e a rotina com os outros filhos, que eram os animais. Alguma coisa não correu bem neste processo de avaliação”, critica.

No entanto, reconhece que tem sido feito um esforço para se aperfeiçoar os processos de avaliação dos casais. Porque se existe alguma certeza nos processos de adoção é a de que a avaliação dos candidatos deve ser “exigente, rigorosa e criteriosa. Temos de pensar que estas crianças necessitam de famílias com características muito específicas. São crianças que trazem uma bagagem completamente diferente daquela que traz um filho biológico”.

Rute Agulhas integrou a comissão que em 2015 fez a revisão dos protocolos de avaliação dos candidatos à adoção. O pedido foi feito à Ordem pela própria Segurança Social e ao longo do trabalho foram detetadas “discrepâncias e incoerências na forma como os vários centros da Segurança Social faziam esta avaliação. No final, fizemos uma série de recomendações exatamente para uniformizar o processo, porque os candidatos têm de ser avaliados da mesma maneira independentemente de morarem no Porto, em Lisboa ou no Algarve, e isso não estava a acontecer”.

Foi a partir daqui que surgiu um manual de regras de avaliação para os candidatos. Os técnicos não têm dúvidas de que o processo tem de ser exigente e, por isso, muitas vezes é moroso, mas há alguns que admitem que se tal não acontece é também porque “há receio de rejeitar candidatos. Não só porque há muitas crianças à espera de uma família, mas também porque se são rejeitados os casais podem recorrer ao tribunal. Os técnicos têm de ir responder e fundamentar e nem sempre se sentem resguardados pelo próprio sistema”, afirmou ao DN uma técnica que pede anonimato.

A mesma assegura mesmo que a percentagem de casais rejeitados deveria ser maior do que é. “Muitas vezes, não se rejeita por receio ou prurido, mas há casais que não têm as motivações certas”, argumenta. “Nenhum de nós é perfeito, nenhuma criança o é também, sobretudo as que estão em acolhimento, que têm um passado muito marcante. Por isso, quando uma família se disponibiliza para adotar tem de ser especial e estar muito bem preparada para conseguir lidar com todos os desafios que se lhe vão deparar pela frente. E nem sempre há certezas relativamente a isto quando se avalia”, refere. Sublinhando que há que apostar na avaliação e formação dos candidatos e das próprias crianças para a adoção, mas não só. “Devemos estar atentos aos sinais. É preciso questionar porque é que há famílias que são excelentes candidatos e que depois maltratam as crianças e as devolvem. Isto deve fazer que todos nós nos interroguemos”, argumenta.

Samuel ainda hoje pergunta se não há uma família para ele

Samuel tem uma história diferente. Foi adotado e devolvido, mas ainda hoje continua a falar daquela família como “os meus pais”. Apesar de ter sido castigado no período em que viveu com eles. Samuel, chamemos-lhe assim, tinha comportamentos sexuais desadequados, que vinham da sua história de abusos na infância. Foi adotado por uma família em que o pai também revelou depois ter tido uma história idêntica.

“Receber esta criança foi um reativar de tudo, de toda a sua história, e não conseguiu lidar com isso”, explicou ao DN a psicóloga que acompanhou este caso. A criança, na altura, porque agora é já adolescente, “não correspondeu às expectativas daqueles pais, que queriam ter em casa um menino bem-comportado e isso não aconteceu”.

Samuel voltou à instituição. Faz terapia. Não voltou a ter outros pais, mas não deixa de ter o sonho de um dia poder estar em família. Rute Agulhas salienta: “Não se pode generalizar as atitudes do candidatos porque muitos têm as motivações certas, mas há outros que estão focados em si, nas suas necessidades e não nas das crianças.” E destes é frequente ouvir: “Não consigo resolver este assunto, se isto não correr bem, vou entregá-lo.” E questiona: “Estamos a falar de um filho. Entregamos os filhos biológicos quando se portam mal ou quando as coisas não correm bem? É por isso que defendo que temos de olhar para trás, para a avaliação dos candidatos, prepará-los, formá-los e apoiá-los.”

Um casal que se candidata à adoção não pode pensar que tem sempre uma forma de resolver o assunto: a devolução, porque as histórias repetem-se.

Simão também ansiava por uma família. Foi levado para uma instituição com uma irmã mais nova, acabaram por ser devolvidos. Simão testava as famílias, quando regressaram à guarda do Estado ficaram em instituições diferentes e o tribunal acabou por decidir que os dois voltariam à lista de adoção individualmente. A irmã já foi adotada. Ele tem 15 anos e perfeita noção de que não será, mas continua a perguntar: “Há alguma família para mim?”

“Já vi situações em que as crianças foram devolvidas e depois foram adotadas e o processo correu bem, mas é claro que os pais que vêm num segundo momento têm um nível de exigência muito maior. O que espera uma criança que já foi devolvida? Que a devolvam a seguir, então pensa: ‘Não me vou ligar, já sei que vou ser rejeitada’, e testa a família até mais não, porque a mensagem que pretende receber é que, afinal, eles aguentam e a amem de forma incondicional.”

Samuel e Simão não são os únicos que após terem sido devolvidos continuam a acreditar e a ter esperança de que um dia terão uma família. Porque, no fundo, foi sempre isso que lhes faltou. Para eles, a realidade é uma só: “Ninguém os quer.” E é-lhes difícil aceitar. É-lhes difícil aceitar que afinal para eles não há uma resposta.

Leva o sonho contigo e guarda-o para amanhã – Promoção da Leitura

Acreditamos que a promoção do gosto pela leitura fará estas crianças voem para além dos seus pensamentos de angústia gerados pela  espera de um projeto de vida que tarda em chegar. Assim vamos manter o nosso projeto de promoção da leitura querendo explorar as infinitas possibilidades que os livros têm, atuando na criança através dos múltiplos conhecimentos que lhes trazem, da diversificação das realidades, no que respeita às emoções e aos afetos, da compreensão do seu mundo interior conectando-o com o exterior, promovendo o processo de construção da identidade de cada um e de formação de valores que devem balizar as suas escolhas. E de viagem por um mundo de sonho possível de vir a tornar-se real!


(Filipe Amorim / Global Imagens)

Atelier de filosofia

O “Refresco de Filosofia” oferece aos meninos acolhidos na Casa da Criança de Tires a possibilidade de pensarem por elas próprias investidas de um sentido de reflexão e indagação sobre aquilo que as rodeia, de forma a criar estruturas mentais de apoio a uma melhor compreensão das diversas questões e sentimentos que os assaltam no o dia-a-dia.

Imbuídos de um sentido crítico poderão fazer as suas escolhas de uma forma consciente e segura e socorrem-se de mecanismos que possam contribuir para a sua integração positiva dentro da sociedade, como seres responsáveis, autónomos, reflexivos e participativos.

É nosso objetivo melhorar a sua auto-estima, ajudando a superar a ideia de exclusão, abandono e determinismo, procurando assim contribuir para a sua educação moral e ética e consequentemente superiorizar a sua noção pessoal face ao mundo e as suas ideias sobre cidadania e sentido de pertença.

A partir de contextos de discussão reflexiva, leituras, jogos, interpretação e crítica estimulamos a perícia e a arte de pensar como elemento fundamental para fornecer ferramentas de plasticidade mental para gerar uma melhor compreensão do mundo e do próprio ‘eu’, adquirindo competências para melhor se desenvolver enquanto ser humano pensante, o que neste contexto, naturalmente, ganha uma dimensão ainda mais importante, e eventualmente mais difícil, em consequência do ambiente em que estas crianças estão enquadradas.

Parcerias com sentido!

Há parcerias que nos enchem o coração e a alma! Obrigada à Pais Conscientes, Filhos Felizes pelo caminho rumo ao coração das mães que frequentam o Programa “Oficina de Mães”, no Estabelecimento Prisional de Tires.

“É verdade que o coração também tem neurónios, mais propriamente 40 mil, por isso com ele pensamos, sentimos e até tomamos decisões.💗💗💗 E é totalmente ligada e conectada com o meu coração que vos digo que o mês de abril traz novidades mil. A primeira começou já hoje na prisão de Tires quando liguei o meu coração ao das 10 mães presas que vieram entusiasmadas e recetivas escutar o que eu tinha para partilhar sobre a Parentalidade Consciente. Rimos juntas, trocámos experiências, falámos dos nossos medos, dos nossos anseios e percebemos que apesar do muro que divide a cadeia, do mundo cá fora todas temos os mesmos desafios e todas queremos o mesmo: ser felizes e o melhor para os nossos filhos. Foi uma oficina de Mães, mas senti que foi igualmente uma oficina de corações, onde no início cada um espreitou meio tímido e no final todos estavam conectados por uma linha invisível que ninguém via, mas que todas sabiam que estava lá. E quando tiveram que ir embora, os olhos destas mulheres, destas mães, brilhavam como as estrelas do céu, numa noite escura, e eu soube que queria voltar mais vezes para ajudar estas mulheres a manterem e a alimentarem este brilho. Para que o mesmo se estenda às suas vidas e às relações que cada uma delas tem com os seus filhos.Gratidão por esta oportunidade, por estar ao serviço da comunidade e por saber dar voz e espaço ao meu coração.🙏🙏💗💗💗”

#estaraoservico #mindfulness #heartfulness #parentalidadeconscienteemocao #programadecompetênciasparentais #oficinademães #oamoréasolução #enpoderarmulheres

Ser família

Existe uma sabedoria intrínseca ao conceito de família… enquanto se espera pela “família de verdade” há um lugar único e especial onde se trabalha para favorecer esse encontro. Esse é um caminho que não se deve percorrer sozinho… e assim demos a mão a uma mãe para que após 5 anos de reclusão e no âmbito do processo da sua Reinserção social conseguisse a sua legalização e pudesse exercer o seu direito de cidadã e o seu papel de mãe. Mãe e filha caminham agora juntas e constroem uma nova Dinâmica familiar rica em histórias que cada uma tem para contar…

Casa da Criança de Tires

Há alturas em que sentimos dor no corpo…

Noutras vezes é por dentro que nos dói e isso vê-se.. As crianças que acolhemos apresentam um quadro curiosamente contraditório. Por um lado conseguem ser bastante sedutoras, conseguindo muitas vezes o que querem… São extremamente simpáticas, afetuosas e parecem fazer rapidamente um bom contacto. Não se mostram tímidas, nem ansiosas na vivência quotidiana, são geralmente saudáveis, limpas arrumadas e organizadas. São frequentemente generosas e gentis com as crianças mais pequenas, especialmente uma criança em particular a quem protegem ou atacam.

Por outro lado, e num contraste impressionante, podem tornar-se ferozmente hostis, especialmente com um adulto com quem tenham sido simpáticas. Passam rapidamente, e sem razão aparente, por raivas súbitas, de pânico, em que batem e destroem tudo à sua volta…

É bem verdade que podemos aprender grandes lições através de pequenas contrariedades, também é verdade que se fossemos protegidos de todos os perigos nunca nos atreveríamos a andar de bicicleta, nem a andar de patins em linha… mas os perigos que enfrentámos deixaram-nos confusos, abalados… e então choramos, fazemos birras, batemos… enfim estamos a aprender a gerir as nossas emoções mais difíceis… Mas também a aceitar as coisas boas que a vida nos dá!

Casa da Criança de Tires
(Filipe Amorim / Global Imagens)

Que avaliação, que resultados?

Os dados diziam que existia um número excessivo de crianças em acolhimento residencial pelo que, acima de tudo, importou minimizar este número, pois Portugal não podia estar na cauda dos restantes países europeus, no que respeita à promoção dos direitos e proteção das crianças. Por conseguinte, a solução passou por apostar em programas de intervenção familiar que, com todos os recursos disponíveis, intervieram no sentido de, a todo o custo, prevenir a residencialização de crianças.

Em 2017 pudemos congratularmo-nos. Na última década observou-se um decréscimo exponencial de acolhimento de crianças e jovens no escalão etário entre 0 e os 14, em função do aumento e da melhoria do acompanhamento familiar que antecede o acolhimento. Curiosamente, registou-se, também, um acréscimo no acolhimento de jovens entre os 15 e os 18 anos… Neste contexto, urge que, hoje, as instituições se especializem para acolher estes jovens com problemas de saúde mental, comportamentos desviantes, consumo de estupefacientes, exposição a situação de perigo e que se criem mais apartamentos de autonomização e mais unidades de saúde mental.

Parece-nos que este é o momento para, mais que hastear bandeiras do sucesso e ponderar soluções para novos problemas, centrarmo-nos em, efetivamente, analisar os dados que se nos apresentam, que são o reflexo de que, na última década, algo não correu tão bem com as soluções apresentadas no passado. Os jovens que chegam hoje ao Acolhimento Residencial não nasceram de geração espontânea e atrevemo-nos a dizer que são provenientes das famílias que foram alvo de intervenção, durante anos. Muitos chegam com um historial de várias experiências de acolhimento, porque afinal as medidas de acolhimento em meio natural de vida não tiveram o sucesso desejado.

Seria ótimo que a máquina não estivesse oleada para fazer emergir novas respostas mas sim para polir, supervisionar e fiscalizar as respostas existentes. Podemos só parar e avaliar antes de fazer emergir respostas/soluções para problemas que decorrem das respostas/soluções que surgiram no passado? E neste processo de avaliação podemos mais que elencar dados, analisá-los? As crianças agradecem. E a sociedade também.

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Maus-Tratos e Reintegração Familiar

“A mim foi o pior, porque batia mais e com mais força. Mesmo com força.”

Quando nos deparamos com crianças vítimas de situações de maus-tratos e negligência conhecemos os momentos de total desproteção e total abandono a que estão sujeitas. E não, não aparece ninguém para os “salvarno último minuto como nos filmes de ficção, estão verdadeiramente entregues a si mesmas, à sua realidade, à sua sorte.

”O que tinha mais medo era quando ficávamos sozinhos em casa, isso é que tinha medo.” São sobreviventes. A angústia e o medo só conseguimos imaginar, às vezes soltam-se partilhas que assustam um adulto: ”Ele é pequeno mas foi esperto atirou primeiro a almofada e depois atirou-se da janela para fugir.” No âmbito da nossa intervenção pensamos em todas as formas de reparação do dano emocional, na construção de memórias felizes, em modelos de relação positivos, afetivos, contentores e de proteção. Mas o passado não é esquecido, e no presente conhecemos o perfil psicológico das crianças maltratadas, a labilidade emocional, os seus mecanismos de defesa, a auto e hetero agressividade, a indisponibilidade para a aprendizagem escolar, a fraca autoestima, a ansiedade e o medo latente, entre tantos outros efeitos nefastos da violência, que certamente moldarão estes que vão ser os pais de amanhã. 

Mediante percursos destrutivos, ambientes familiares desestruturantes, parece-nos que estas crianças têm o direito a não mais passar por experiências semelhantes, a serem realmente protegidas, respeitadas, acarinhadas. Quando se perspetiva a reintegração familiar, a premissa inquestionável deveria ser a garantia de um futuro diferente, de uma resposta familiar afetiva, consistente, cuidadora e protetora. No fundo, que se possa salvaguardar o chavão tantas vezes realçado de superior interesse” da criança.

“Sabes que partiu-lhe o dente?” É exatamente a este ponto é que as crianças não podem voltar. Que se saiba aferir o impacto do mau-trato e da negligência após sarar as feridas físicas, que se saiba acautelar devidamente as condições de reintegração em meio familiar, que se saiba avaliar o verdadeiro impacto de uma intervenção familiar, e que se saiba também perceber quando é a altura de perspetivar um futuro diferente. E, não menos importante, que as decisões judiciais caminhem par a par com o direito das crianças a um futuro melhor.

Não! Os técnicos não são resistentes! Não os técnicos não ”têm medo que as crianças caiam!” Os técnicos têm medo que caiam as responsabilidades quando as as decisões correm mal!

Casa da Criança de Tires
(Filipe Amorim / Global Imagens)

“Hoje vamos fazer grupos na Salinha dos Segredos?” – O lado ”A” do acompanhamento psicológico em Acolhimento Residencial

O sábado de manhã é o dia de “fazer grupo”, em boa verdade leia-se dinâmicas de grupo, sendo um momento marcadamente pedagógico, lúdico e emotivo, muito aguardado por quem participa e talvez ainda mais por quem dinamiza. As sessões são semiestruturadas, os temas são sempre explorados de forma intensa, mas as regras são claras e todos têm direito à palavra, ao silêncio, à sua vez de participar, à observação apenas e até à reclamação. Esperar pela sua vez é difícil, mas cada vez mais possível, e o respeito pela opinião do outro é ponto assente. A acompanhar a sessão, temos a companhia da música, cada canção é personalizada e escolhida à vez e muito diz de quem a escolhe, da sua personalidade, das suas experiências, gostos e história. “Eu choravade Nininho Vaz Maia, escolha habitual de B. relembrando a sua cultura, ou a canção “90” de Diogo Piçarra escolhida por E., “Lembras-te de quando nós só pensávamos ser alguém que fosse à lua ou num estádio a correr, quando ainda ninguém nos obrigava a viver(…)” dedicada ao seu irmão também acolhido. Relembrando o tema das emoções, é uma honra recebermos o convite para entrarmos nos seus mundos e passados tão difíceis, e sobretudo ajudar a reparar feridas. Surpreendemo-nos quando apesar da dor e sofrimento pessoal existe sempre espaço para a partilha de pensos rápidos (literalmente pensos rápidos) para colocar “nas feridas do coração da R.”  ou abraços imediatos após a partilha de uma memória difícil, como forma de consolo da dor. E no final de cada sessão, segue-se a rotina de “uma por todas e todas por V. da L. (nome do grupo)” com direito ao devido grito de guerra.

 

Tendo em consideração o contexto e a partilha de uma realidade em comum, isto é, a vivência numa casa de acolhimento residencial, torna-se importante trabalhar em grupo determinados aspetos relacionais, comportamentais e emocionais inerentes ao acolhimento e também à problemática que conduziu ao mesmo.

Neste sentido, a partilha de uma problemática idêntica e de uma experiência em comum facilita a comunicação, a compreensão, a confiança, a auto ajuda e o desenvolvimento de relações interpessoais empáticas. Os grupos são criados de acordo com a faixa etária da criança, tendo em consideração o seu desenvolvimento, competências e capacidades para que numa componente lúdica e pedagógica sejam introduzidas atividades cujas temáticas visam o abordar a componente social, relacional, comunicacional, pessoal e emocional.

Casa da Criança de Tires
(Filipe Amorim / Global Imagens)

 

E de repente, é Natal!

F2F6CAE1-01D4-4FE4-872A-DD0BA3633A29E já cheira a Natal. A Casa enche-se de cor e brilho, monta-se a árvore com todo o carinho e entusiasmo, chegam corações generosos e altruístas que de variadíssimas formas contribuem para um Natal feliz, preenchido e rico em desejos concretizados.

Chegam as mensagens de amor e o carinho de quem acompanha e apoia incondicionalmente a vida dos meninos. Chegam de toda a parte, e são todos bem-vindos com o eterno agradecimento pela solidariedade. A carta ao pai Natal foi escrita com rigor, respeitando o “Querido pai Natal este ano portei-me bem…

A magia instala-se, momentos surpreendentes de surpresas, doces e brinquedos, o calçado que faltava e a despensa cheia dos cereais preferidos para o pequeno almoço. Tudo isto, apenas por um sorriso em troca. E as crianças vibram, até o pai Natal aparece vestido como deve, a euforia domina e o ambiente é de festa.

Mas para os mais atentos, algo muda de repente. A euforia passa a irritação, de repente não era aquele brinquedo, queriam-se mais doces, a lembrança inoportuna de um brinquedo que deram e se estragou, e afinal o carro leva pilhas e não temos, e não se quer brincar ou sequer conversar.

E de repente, escapa a verdade que não se compra. “E porque é que a minha família nunca mais veio!” S. Quebra-se a magia. E então, fica um abraço apertado e murmuram-se palavras de esperança no futuro de um Natal em família, seja ela qual for, que seja a melhor para cada criança.

Só é possível com os nossos voluntários!

“Os gregos antigos utilizavam duas palavras para o tempo: chronos e kairós. A primeira palavra refere-se ao tempo cronológico ou sequencial, ao tempo que se mede, de natureza quantitativa. A palavra kairós possui uma natureza qualitativa e representa o momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece.

A vida terrena é feita de tempo chronos. Para alguns de nós, esse tempo revela-se insuficiente para tudo o que desejaríamos fazer. Somos uma espécie de hóspedes por tempo indeterminado. A boa notícia é que a vida terrena é também feita de tempo kairós. Cabe a cada um de nós fazer com que esse tempo aconteça. Para muitos de nós, existem fases em que os acontecimentos estão ao nosso lado e nós vamos tão depressa, tão focados nas nossas metas que perdemos o tempo. Noutros momentos, é o tempo que passa ao nosso lado e nós deixamos que ele avance.”

No trabalho que desenvolvemos diariamente conhecemos pessoas que utilizam o seu tempo ao serviço dos outros. Olhando para elas, apercebemo-nos que, independentemente da sua idade, estão cheias de tempo e quanto mais tempo dão aos outros, mais tempo ganham.

Talvez seja essa a verdadeira magia dos afetos: quanto mais damos, mais ricos nos tornamos.

Obrigada a todos os nossos voluntários e amigos!

Casa da Criança de Tires
Aula de chi kung com a voluntária Maria Adelaide (Filipe Amorim / Global Imagens)

Termómetro das emoções – Se eu pudesse medir as minhas emoções…

Se pudesses medir as tuas emoções, como se fosses medir a febre, o que achas que daria?Ardia de raiva.

Todas as emoções são possíveis, são bem vindas, são aceites. Mas a forma como as manifestamos e o que fazemos quando elas nos dominam, pode ser repensado. O Termómetro das Emoções é usado na Salinha dos Segredos de forma lúdica e terapêutica para apoio na gestão das emoções,  ajudando com estratégias para a sua expressão mais adequada. Mas, nem sempre é fácil, as histórias de vida não o permitem, muitas vezes a dor, a frustração e a raivafalam mais alto e conseguimos compreender os momentos de passagem ao ato. Mas continuamos o nosso caminho, na procura de equilíbrio emocional e de autocontrolo, conscientes da sua importância para o crescimento de cada um.

“Apetecia-me gritar, gritar a todos que é injusto E porque não? Às vezes é mesmo, quando assim é,  gritamos juntos.  

Visitar as mães no Estabelecimento Prisional de Tires – A hora da visita…

É tão bom ser pequenino,
Ter pai, ter mãe, ter avós,

E ter espe
rança no destino
E ter quem goste de nós.

Ver tudo com alegria,
Sem delongas, sem demora,
Ver a vida numa hora
a eternidade num dia
Ter na mente a fantasia
De um bem que ninguém supôs,
Ter crença, sonhar a sós,

Com
a grandeza deste mundo
E, para bem mais profundo,
Ter pai, ter mãe, ter avós.

ouvíamos no fado Ser pequenino e sublinhava-se E, para bem mais profundo, ter pai, ter mãe, ter avós mas nem sempre pode ser assim. Existem obstáculos que separam filhos de mães, ou,  por outras palavras, existem percursos de vida dos adultos que assim o determinam. Da janela do corredor dos quartos da Casa da Criança é possível observar a Casa das Mães do Estabelecimento Prisional de Tires, tão perto assim e tão longe na verdade, onde as crianças sabem estar as suas mães. Sabem que ali estão, num tempo que parece eterno. Sabem que têm que esperar, e enquanto esperam visitam as suas mães, duas vezes por semana, em horas que parecem minutos, que passam a voar deixando saudades mesmo antes de acabar. As visitas são momentos de ligação, de ternura e de conforto. São sempre fugazes, num final que se espera difícil “Mãe, não chores, vai passar” B. 8 anos. E lembrando um verso da canção “E, num destino sem esperança, ter esperança no destino.” repetem-se semanalmente as visitas, sempre com a esperança de que um dia (o mais breve possível) o momento de encontro não seja rodeado de portas e grades, de guardas e reclusas, de dor e saudade. “

O livro de vida no acolhimento residencial

“Imagina uma viagem de comboio, a passagem pela Casa da Criança de Tires não é mais do que uma viagem de comboio: repleta de embarques e desembarques, salpicada por acidentes, surpresas agradáveis em algumas estações e tristezas noutras. De entre os meninos e meninas que apanham este comboio, também haverá quem o faça como um simples passeio, ficando pouco tempo na Casa. E outros, circularão pelo comboio mais tempo, até que possam sair em segurança. Mas todos, quando descem do comboio, deixam uma permanente saudade”

Através doLivro de Vidaconstruímos a narrativa de cada criança, de forma terapêutica, cada página do passado é importante no presente, e tem implicações no futuro. Cabe-nos a missão de ajudar a reparar as feridas e trabalhar de modo a que o futuro não seja (mais) comprometido pelo seu percurso de vida. Cada memória é registada, valorizada, interpretada e enquadrada dentro do contexto de cada criança. Somam-se ainda as novas memórias criadas em ambiente institucional que procuram ser o mais ricas e felizes possível. Imaginando que esta passagem na Casa da Criança de Tires é apenas uma página nas suas vidas, felizmente tão longas ainda, construir as suas narrativas torna-se essencial para que levem consigo as suas memórias (fotografias, diplomas, cartas, experiências vividas) e que possam no futuro lembrar do que aconteceu e serem (quando já são tanto) ainda mais fortes.  

Momento da partilha – Dinâmica que favorece a comunicação e a gestão e a gestão emocional

Os dias passam. Às vezes temos a sensação de que passam muito rápido, quando estamos felizes e tranquilos, outros dias passam muito devagar pela angústia e ansiedade que sentimos. Ao final do dia, depois de tantas aventuras vividas, desafios e emoções diferente, temos um momento em que podemos partilhar todas as nossas histórias ou simplesmente escutar o dia dos nossos amigos, se apetecer apenas ficar em silêncio.

É no jantar que todos nos encontramos e pensamos no dia que tivemos, contamos as coisas boas e as coisas menos boas, e temos o nosso Momento de Partilha. Cada criança é convidada a partilhar o que desejar, um pensamento, uma situação, uma preocupação, ou simplesmente o que fez nesse dia. Começa-se por “Hoje o meu dia foi…” e seguem-se verdadeiras narrativas. “Hoje um amigo fez anos, comemos gomas(…)Hoje não tive visita da minha mãe (…)” ou “Hoje tenho recado na caderneta porque ().– Quase sempre, refletimos em conjunto sobre as diferentes partilhas, cada uma delas ajudará no crescimento não só da criança que contou mas de todas as restantes que escutam com atenção.

O dia nem sempre corre como desejado, e é importante saber com quem contar, escutar ativamente e devolver com afeto é um dos princípios deste momento. Em grupo, aproveita-se a oportunidade de trabalhar os desafios do dia a dia, fomentando-se a empatia, compreensão, comunicação positiva, escuta ativa e o respeito pelo outro. Esperar pela sua vez é igualmente muito importante. Também os adultos são envolvidos na dinâmica contando aspetos significativos do dia, que muitas vezes começam com o reforço positivo de comportamentos “Estou muito orgulhoso porque hoje o…”.

E assim, os dias passam, mas ao final de cada um temos um momento próprio que o recorda e mostra o quão especial cada dia é para nós.

No que diz respeito às crianças que são acolhidas em instituições…

Estudos apontam para a necessidade de instar o governo no sentido de tomar medidas que privilegiem o acolhimento familiar, para crianças menores de 6 anos. Em Portugal ainda existe um longo percurso a percorrer para que essa resposta seja uma realidade, como tal o acolhimento residencial continua a ser a alternativa que protege as crianças das inúmeras situações de perigo a que são sujeitas no seio das suas famílias.

Importa, portanto, que esta tipologia de resposta promova a efetiva proteção e promoção dos direitos das crianças assumindo um compromisso que vá para além de dar de comer, manter os cuidados de higiene e dar um tecto.

É nosso entender que a ausência de recursos financeiros para fazer face às exigências de um acolhimento com qualidade, a falta de pessoal qualificado ou a ausência de supervisão não podem constituir-se como justificação para a inexistência de sentido de presença, de espírito de família ou de estabelecimento de vínculos afetivos salutares com pessoas de referência, requisitos essenciais para um acolhimento com intencionalidade terapêutica.

Sabemos, por experiência própria, que é possível ter um acolhimento onde as relações afetivas são significativas, a comunicação é afetiva, o sucesso escolar um dever, o envolvimento da família de origem e a integração na comunidade uma realidade, a par de toda a reabilitação física e psicológica.

É através do trabalho em rede e do envolvimento de parceiros que conseguimos atividades extra-curriculares diversificadas, que temos acompanhamento escolar diário efetuado por voluntários, acesso a terapias diferenciadoras, que dinamizamos atividades e ações que potenciam a inclusão social, desenvolvendo competências pessoais e sociais que lhes permitirão fazer boas escolhas no futuro.

Acreditamos no potencial de cada criança e é exatamente pelos seus talentos que começamos, porque queremos chegar ao “coração” antes de chegar à “cabeça”, sendo que mais que acolher estamos a educar e a formar crianças para que cresçam a reconhecer os seus deveres e direitos.

Por conseguinte, ainda que algumas instituições estejam a fazer o seu percurso no sentido de uma filosofia de intervenção que dê resposta à efetiva necessidade das crianças que acolhem, importa que haja um sentido de responsabilidade quando se generaliza a informação de que as instituições não têm capacidade para desenvolver uma intervenção qualificada e simultaneamente afetiva.

Estamos longe de fazer uma efetiva reabilitação das crianças quando na escolha da resposta que melhor se adequa à especificidade de cada criança atendemos a critérios como o intervalo da faixa etária, a inexistência de necessidades educativas especiais ou a ausência de problemas de saúde… Para estas crianças o acolhimento residencial já serve!

Teremos a certeza de que as respostas são efetivamente ponderadas quando um adolescente, uma criança menor de 6 anos com problemas de saúde mental ou uma criança com algum tipo de deficiência também tiver direito a uma família de acolhimento, com todos os benefícios que daí decorrem. Na tomada de decisão, e atendendo ao princípio da adequação, importa de facto que o foco seja a criança e não os factores de risco que poderão obstar o sucesso de uma resposta.

Deixemos cair a bandeira de que todas as instituições funcionam mal para fazer validar a necessidade do acolhimento familiar! O Acolhimento Familiar vale por si mesmo!

Não fazemos esta caminhada sozinhos!

Quando uma atividade é muito mais do que isso… Quando é a possibilidade de concretizar um sonho, a oportunidade de provar um sabor, a hipótese de fazer novos amigos… Quando é a responsabilidade social de uma empresa ou o resultado de um evento com vista ao bem-estar de crianças que nos são desconhecidas… É possível que seja algo novo que nasce em nós, um brilho único e uma força especial que faz com que acreditemos que é possível… Em cada atividade caminhamos com passos firmes e tranquilos de quem tem a segurança de um lar, o colo de amigos e a certeza de que sendo amados, amaremos muito mais.

Hoje a nossa voz chegou mais longe!

A Fundação Champagnat associou-se à Child Rights Connect e à FMSI, no âmbito do Dia da Discussão Geral, em Geneva, dando voz às crianças Maristas como defensores dos direitos humanos a nível local, nacional e internacional. Assumindo o seu papel de cidadãos ativos, as crianças da Casa da Criança de Tires e da Ludoteca da Adroana mostraram que a sua voz merece ser ouvida no que toca à defesa dos seus direitos e dos seus pares, visando uma transformação na sociedade em que estão inseridos. Os seus contributos chegaram hoje pela voz de outras crianças, que irão expressar os seus pontos de vista relativos à sua realidade vivencial e participar nas alterações políticas sobre a temática “Proteger e dar voz voz às crianças enquanto defensores dos direitos humanos.”

Esta ação pretende mudar a perceção pública das crianças enquanto seres vulneráveis que precisam de proteção e promover o entendimento das crianças como defensores ativos no âmbito da promoção e proteção dos direitos. Hoje a nossa voz chegou mais longe!

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Na esperança de um futuro risonho – Intervenção em meio prisional

O que diferencia a Casa da Criança de Tires das demais Casas de Acolhimento Residencial é o facto de sermos pioneiros no acolhimento de crianças filhas de reclusas, o que pressupõe uma intervenção especializada que incide, essencialmente, sob a tema da maternidade atrás das grades.

Num primeiro contato é evidente o sofrimento causado pela ambiguidade entre a manutenção do filho num ambiente mais hostil ao desenvolvimento salutar de uma criança e questionamento do seu papel enquanto mãe, assumindo que outras pessoas serão responsáveis pela salvaguarda dos seus cuidados mais básicos. Gera-se uma angústia… a de ser substituída no seu papel de mãe. E seguem-se as dúvidas, as inseguranças, a instabilidade, um nó na garganta que somente se desvanece face à vontade do filho de querer ficar com estas pessoas estranhas e não querer ser fechado à luz do dia por um crime que não cometeu. Há uma consciência clara da privação de liberdade, do não querer ser fechado, de querer continuar a brincar com os amigos.

É neste enquadramento que primamos por estabelecer uma relação de proximidade com vista a desmistificar pré-conceitos que existam relativamente aos objetivos e dinâmica de uma Casa de Acolhimento, esclarecendo que a sua função parental irá agora ser partilhada mas nunca substituída, deixando claro que a sua condição de reclusão não determina a adoção do seu filho, o seu maior receio. É no âmbito desta reflexão participada que chegamos a um consenso: é  nosso objetivo comum a manutenção da relação mãe-filho e fortalecimento do o vínculo afetivo.

Investe-se na criação de uma relação de confiança que se conquista com base na presença, na empatia, no respeito e na valorização pessoal de cada mulher enquanto ser humano completo e sujeito de direitos e deveres, mas que também é mãe e como tal deve, na medida do possível, empenhar-se na tarefa de bem cuidar, de educar, de zelar e potenciar o crescimento saudável dos filhos, ainda que a sua voz chegue através de terceiros. Há um trabalhar da culpa que está associada à condição a que sujeitaram o filho que é mascarada com doces e muito colinho que faz com que estas crianças consigam crescer seguras e emocionalmente estáveis. São meninos que têm colo de mãe. E todos sabemos: é o melhor colo do mundo!

E aquando da Liberdade Condicional conciliam-se desejos de mães e filhos, a esperada e tão desejada reunificação familiar, um começar de novo que anda de mãos dadas com a esperança de um futuro mais risonho.

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Entre sorrisos e confidências… Na Salinha dos Segredos

Uma vez uma criança partilhou “Estou triste… Gosto dos amigos, gosto dos crescidos, mas eu quero ir para a minha casa” ao qual uma criança mais velha respondeu com alguma indignação, “Mas aqui vais passear, vais com a família amiga e fazes coisas novas!”

Se pensarmos no que é transmitido percebemos o quão difícil pode ser para uma criança, separada precocemente da sua família, integrar uma instituição com novos cuidadores e novas rotinas. É, no entanto, também fácil compreender que, em muitos casos, a separação da família implica o afastamento de situações de negligência ou maus-tratos pelo que o acolhimento pode ser vivido de uma forma contentora. A ambivalência dos sentimentos pode surgir na mesma criança, em diferentes momentos do acolhimento.

No acolhimento impõe-se o afastamento temporário ou prolongado da criança do seu meio familiar e embora esta situação possa ser temporária impõe a adaptação e o crescimento num contexto totalmente novo, entre afetos soltos com muitos “irmãos”, entre atenções partilhadas em turnos de adultos que pretendem ser o mais próximo que têm da figura parental. O mundo que conheciam mudou e é agora um mundo institucional, uma casa acolhedora que pode ser mais ou menos familiar, mas nunca a família.

Na Casa da Criança de Tires, as crianças conhecem um novo mundo, um mundo que se pretende tanto de afetuoso como de terapêutico. Tendo em consideração as histórias de vida de cada um, torna-se fundamental a intervenção individualizada ao nível das competências pessoais, emocionais e comportamentais.

Fruto de vivências negativas, em contextos familiares desestruturados, muitas destas crianças integram a instituição com marcas negativas evidentes no desenvolvimento físico, social, afetivo e cognitivo. O trabalho desenvolvido pretende ser reparador de cuidados precoces insuficientes, negligentes ou desadequados, promovendo o bem-estar da criança e estimulando um crescimento saudável.

As crianças acolhidas são, na grande maioria, crianças cujo processo de socialização foi realizado com muitos incidentes e em que o padrão de interação com os adultos foi desenvolvido de forma negativa não permitindo a existência de uma relação afetiva equilibrada e segura. É, então, comum que algumas crianças apresentem dificuldades ao nível cognitivo e sócio afetivo com reflexo direto nas aprendizagens escolares, integração social e relacionamento interpessoal. Recordando, uma das integrações, relembramos o acolhimento de uma criança vítima de negligência e maus-tratos, em que o seu natural cumprimento, durante várias semanas, era o punho erguido em tom de ameaça murmurando repetidamente, num som abafado, “Tu levas”, terminado com um palavrão que não se fazia esperar numa criança tão nova.

Em muitas situações, as dificuldades de relacionamento interpessoal são trabalhadas através das dinâmicas de grupo desenvolvidas. Considerando-se a partilha de uma problemática semelhante e de uma experiência comum como facilitador da comunicação, compreensão, confiança e empatia. De uma forma lúdica e em grupo são trabalhados conteúdos marcadamente emocionais, encontrando e partilhando-se estratégias entre as crianças. “Podes chamar o adulto em vez de bateres” ou “Pede um abraço quando estás nervoso” são algumas das sugestões que surgem, sempre mediadas e dirigidas pela psicóloga. Os grupos são criados de acordo com a faixa etária da criança, tendo em consideração o seu desenvolvimento e competências para que numa componente lúdica e pedagógica sejam introduzidas atividades cujas temáticas visam o treino de competências pessoais, sociais e emocionais. A relação, cooperação e a empatia desenvolvem-se, entre risos e confidencias, ouve-se, frequentemente, “Eu também era assim”.

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Construindo Memórias Positivas

Acreditamos que temos um acolhimento diferenciado! Somente é possível fazer boas escolhas no futuro se a estas crianças for dada a oportunidade de conhecerem mais, experimentarem mais, viverem mais e sentirem muito. As atividades em que participam são de partilha, alegria, aconchego, amizade, cooperação, contacto com regras e princípios, respeito, consolidação de valores e de integração na comunidade onde estamos inseridos.

É uma louca aventura a vivência em meio Institucional mas é tão bom partilhar esta doce loucura com amigos que vão ficar para a vida.

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A propósito da Adoção – Um poema cantado!

“Eu aqui na casa vou ter um final, esse final vai ser que vou ser adotado; Mas pode faltar muito tempo, vão ser dias e meses; Espero que me lembre de vocês, adoro-vos e nunca vos irei esquecer, amigos para sempre; Por isso digo-vos que gostei de vocês mas ainda vou ficar cá mais algum tempo, e então espero que não se esqueçam de mim; Agora não fiquem a dizer: – Estou a ficar invejoso, também queria ir embora; Ou outra coisa; Eu sempre viajei aqui na Casa, para vos ver; Eu só quis me divertir, aqui na Casa com os meus amigos. São participantes, daqui da Casa; Como eu.

Hum, hum, hum, hum, hum, hum, hum; Eu sempre quis viajar aqui na Casa, para me divertir; Agora vou-me embora, sempre quis vir para aqui para vos, vos, vos, vos, vos ver aqui amigos do fundo do coração. (Som de três palmas);

Eu, eu sempre vir para aqui para me divertir com, com quem diz a casinha? Com os meus amigos. Principalmente com o I., J., R e etc; Mas gosto muito de vocês, sempre quis vos ver aqui na Casa! Aqui na Casa só temos amor! E etc; Mas só quis vos conhecerrrrrrrrrrrrrr. (Tristeza)

Hum, hum amigos seremos para sempre, seremos sempre, para sempre; Do fundo do coração; Gostei de estar aquuuiiiiiii; Eu sempre quis andar aqui para a Casa dos Sonhos, tenho belas frases para vos dizer. E quais são? (Acabou a canção)

Abrir a janela para o futuro; Abrir a porta para o passado; Agora tenho uma pergunta para vocês: – Gostaram do Poema? Sim? Não? Etc. Tchau amigos.”

De: A. 9 anos

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O dia do acolhimento

O primeiro dia do acolhimento é um dia carregado de emoções e por isso mesmo o dia mais importante de todos. É o dia em que os olhares se cruzam em busca de segurança, de reconhecimento de alguma referência… É o dia em que o sorriso diz preciso de confiar mas o olhar diz tenho medo! E as lágrimas caiem sem que se consiga controlar… “Esta não é a minha casa!”

Segue-se o impacto de uma casa cheia de crianças e com tantos brinquedos! É quando o sol se põe que chegam as perguntas reveladoras: “Vocês aqui batem?” E depois: “Aqui a água é quentinha, podemos tomar banho todos os dias? E com o cair da noite chegam as lágrimas silenciosas seguida da pergunta: “Mas quem fica connosco à noite?” E assim se inicia uma caminhada num mix de emoções tão complexas!

O que nós esperamos é que a estadia nesta casa seja repleta de boas memórias e que estes meninos levem na bagagem sonhos, desejos e angústias sanadas.

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O poder da música

No âmbito do processo de reabilitação psicossocial das crianças acolhidas nesta Casa temos apostado na música como ferramenta privilegiada para intervir nas perturbações emocionais e de comportamento, numa ótica de prevenção e de promoção de bem-estar.

A brincar, a dançar e a cantar experimentamos novas sonoridades e nesta linguagem que todos entendemos é mais fácil expressar emoções e sentimentos das vivências passadas. Tão bom podermos dizer o que sentimos… Seja qual for a linguagem!

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A saída do acolhimento

A propósito das nossas despedidas, de ontem e as que se aproximam…

“Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.” Autor desconhecido

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