“Hoje vamos fazer grupos na Salinha dos Segredos?” – O lado ”A” do acompanhamento psicológico em Acolhimento Residencial

O sábado de manhã é o dia de “fazer grupo”, em boa verdade leia-se dinâmicas de grupo, sendo um momento marcadamente pedagógico, lúdico e emotivo, muito aguardado por quem participa e talvez ainda mais por quem dinamiza. As sessões são semiestruturadas, os temas são sempre explorados de forma intensa, mas as regras são claras e todos têm direito à palavra, ao silêncio, à sua vez de participar, à observação apenas e até à reclamação. Esperar pela sua vez é difícil, mas cada vez mais possível, e o respeito pela opinião do outro é ponto assente. A acompanhar a sessão, temos a companhia da música, cada canção é personalizada e escolhida à vez e muito diz de quem a escolhe, da sua personalidade, das suas experiências, gostos e história. “Eu choravade Nininho Vaz Maia, escolha habitual de B. relembrando a sua cultura, ou a canção “90” de Diogo Piçarra escolhida por E., “Lembras-te de quando nós só pensávamos ser alguém que fosse à lua ou num estádio a correr, quando ainda ninguém nos obrigava a viver(…)” dedicada ao seu irmão também acolhido. Relembrando o tema das emoções, é uma honra recebermos o convite para entrarmos nos seus mundos e passados tão difíceis, e sobretudo ajudar a reparar feridas. Surpreendemo-nos quando apesar da dor e sofrimento pessoal existe sempre espaço para a partilha de pensos rápidos (literalmente pensos rápidos) para colocar “nas feridas do coração da R.”  ou abraços imediatos após a partilha de uma memória difícil, como forma de consolo da dor. E no final de cada sessão, segue-se a rotina de “uma por todas e todas por V. da L. (nome do grupo)” com direito ao devido grito de guerra.

 

Tendo em consideração o contexto e a partilha de uma realidade em comum, isto é, a vivência numa casa de acolhimento residencial, torna-se importante trabalhar em grupo determinados aspetos relacionais, comportamentais e emocionais inerentes ao acolhimento e também à problemática que conduziu ao mesmo.

Neste sentido, a partilha de uma problemática idêntica e de uma experiência em comum facilita a comunicação, a compreensão, a confiança, a auto ajuda e o desenvolvimento de relações interpessoais empáticas. Os grupos são criados de acordo com a faixa etária da criança, tendo em consideração o seu desenvolvimento, competências e capacidades para que numa componente lúdica e pedagógica sejam introduzidas atividades cujas temáticas visam o abordar a componente social, relacional, comunicacional, pessoal e emocional.

Casa da Criança de Tires
(Filipe Amorim / Global Imagens)